domingo, 22 de fevereiro de 2015

7 Aplicativos para Criação de Mapa Mental–Fonte: http://www.mapamental.org/mapas-mentais/7-aplicativos-para-criacao-de-mapa-mental/

mapa mental

Fizemos uma seleção com 7 programas grátis e pagos para criação de Mapas Mentais tanto para Windows, MAC e Linux.

É importante escolhermos aquele software que mais se aproxima do padrão de desenvolvimento de cada um, seja para o mapa mental ou conceitual.

A dica é chave é: simples e objetivo. O ambiente de criação/desenvolvimento não pode se tornar um fator de distração, com muitos detalhes que pode tornar a criação dos mapas mais dificultosa.

Confira a lista:

1. MIND MEISTER (grátis e pago)

mindmeister - programa - mapa mental

 

2. MIND NODE (grátis)

* este é o que utilizamos para criar a maioria dos mapas mentais

  • Programa muito simples e prático de se utilizar no dia a dia
  • Sua desvantagem é que é compatível somente com MAC OS, iPad e iPhone
  • Foi classificado pela Apple como “App Store Best”
  • Download: www.mindnode.com

mindnode - programa - mapa mental

3. FREE MIND (grátis)

freemind - programa mapa mental

4. XMIND (grátis e pago)
  • Possui um visual agradável e diversas formas de compartilhamento dos mapas e salvá-los no servidor XMind
  • XMind é a versão grátis, já as versões mais completa (XMind Pro, e XMind Plus) são pagas
  • Disponível para Windows, MAC OS e Linux
  • Download: http://www.xmind.net/download/win/

xmind - programa - mapa mental

5. FREE PLANE (grátis)

freeplane - programa - mapa mental

6. MIND MANAGER (pago)

mindmanager - programa - mapa mental

7. MIND MAPR (complemento Chrome)
8. COGGLE (grátis)
  • Também online
  • Permite mais de uma pessoa trabalhar no mesmo mapa mental
  • Acesso: http://coggle.it/

mind.map1_

Bom, existem dezenas de outros programas e aplicativos para criação de mapas mentais e conceituais. Caso você conheça mais algum interessante, por favor, deixe um comentário ou envie um e-mail para nós.

Um abraço e até a próxima!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Coreia do Norte

 

Bastou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, visitar a Coreia do Sul que a rival do norte já prepara um teste nuclear para os próximos dias. O possível quarto é um reflexo de um país hostil, totalitarista e comandado por um ditador cruel e intolerante. Na edição de abril da GQ, nosso repórter esteve na Coreia do Norte e relata o que viu lá. Confira:
Lentamente, o trem deixa para trás os modernos prédios e as movimentadas avenidas da cidade de Dandong, na China, para atravessar a ponte de ferro sobre o Rio Yalu e chegar a Sinuiju, na Coreia do Norte. Entrar no país mais fechado do mundo, que vive sob uma ferrenha ditadura comunista desde 1948, é como voltar no tempo. Avisto as chaminés de uma velha fábrica no estilo soviético, onde são produzidos refrigeradores novíssimos – mas exatamente iguais aos que eram feitos na década de 60. Ao longo da ferrovia, observo dezenas de operários trabalhando na manutenção dos trilhos, sob o sol forte, munidos apenas de marretas, sem a ajuda de máquina alguma. As lavouras de arroz no caminho são aradas por carros de boi, como se fazia na Idade Média. Na estação, uma companhia de soldados norte-coreanos armados com fuzis recepciona o grupo de turistas. “Não apressem os policiais”, diz o guia chinês. “Vamos ficar aqui por mais de duas horas.”
Ao abrirem a mochila de uma senhora chinesa, os soldados encontram um livro grosso com uma cruz dourada estampada na capa. Levam alguns minutos até concluírem que se trata de uma Bíblia. A mulher é autorizada a entrar com o livro, mas é informada que só pode sair do país se o trouxer consigo. E não pode mostrá-lo a ninguém: caso um civil norte-coreano seja flagrado folheando a Bíblia, poderá ir parar em um campo de trabalho forçado, semelhante aos gulags soviéticos. Também somos proibidos de entrar com livros sobre a história da Coreia do Norte, revistas sul-coreanas, câmeras com GPS, aparelhos de rádio e bandeiras dos EUA e da Coreia do Sul. Quando o guarda devolve os passaportes e seguimos rumo a Pyongyang, capital do país, comento com o guia que aquela era uma recepção digna do “Reino Ermitão”, como o país é conhecido.

Reverência Ao chegar a Pyongyang, os turistas são obrigados a depositar flores nas estátuas de Kim Il-sung e Kim Jong-il (Foto: Richard Amante)Reverência Ao chegar a Pyongyang, os turistas são obrigados a depositar flores nas estátuas de Kim Il-sung e Kim Jong-il (Foto: Richard Amante)

Durante o ano passado inteiro, o jovem ditador norte-coreano, Kim Jong-un – que teria 31 anos, mas as informações sobre sua vida são tão esparsas que ninguém sabe com certeza –, tomou atitudes que assombraram a comunidade internacional. Foram várias tentativas de demonstrar força: o regime realizou testes com uma bomba nuclear “menor, mais leve e mais potente” e ameaçou atacar a costa oeste americana com ela; orientou que todos os embaixadores estrangeiros deixassem o país, por não ser capaz de “fornecer segurança a eles”; lançou seis foguetes no Mar do Japão, uma clara provocação ao inimigo histórico; condenou um americano a 15 anos de trabalho forçado por ter fotografado crianças famintas no interior; tentou contrabandear de Cuba mísseis e outras armas pesadas, escondidos embaixo de sacos de açúcar em um cargueiro. E, para finalizar o ano com uma atrocidade, em dezembro Kim Jong-un mandou executar Jang Song-thaek, seu próprio tio e número 2 na escala de poder do país, uma brutalidade inédita até mesmo para os padrões norte-coreanos. Em fevereiro deste ano, após ouvir 240 refugiados do regime, a ONU divulgou um relatório em que coloca o país como o maior violador de direitos humanos do mundo – em 400 páginas, aponta torturas sistemáticas, fome deliberada e massacres em níveis próximos ao genocídio nazista. Como se nada disso tivesse acontecido, Kim Jong-un foi o grande vitorioso nas eleições legislativas no país, no mês passado, com 100% dos votos para o parlamento, em um pleito absolutamente controlado pelo regime. 

King Jong-Un, o excêntrico ditador da Coreia do Norte (Foto: Túlio Fagim)King Jong-Un, o excêntrico ditador da Coreia do Norte (Foto: Túlio Fagim)

A tensão do ano passado teve impacto no número de turistas autorizados a entrar na Coreia do Norte. Entre 2012 e 2013, quando o regime comunista começou suas provocações, o número de visitantes caiu de 5 mil ao ano para 1,5 mil. A principal razão, segundo agências chinesas especializadas, são restrições nos passeios: hoje, há apenas dois itinerários permitidos no país. Durante minha visita, o maior sinal da tensão era mesmo nos rostos dos visitantes – todos os norte-coreanos com quem cruzávamos pareciam ter um sorriso amarrado no rosto. No caminho até a capital, vimos mais lavouras de arroz, com agricultores que realizavam o plantio manualmente. Em agosto, todos os cidadãos da capital, Pyongyang, são obrigados a trabalhar na colheita, em dois períodos de dez dias no campo. “O trabalho do homem é muito mais necessário no regime em que vivemos”, explica um dos guias.
O trem chega a Pyongyang e começa a movimentação de passageiros. Além de sua mala, uma garota que voltava da China (deveria ter ligações com um integrante do partido, única maneira de entrar e sair do país com facilidade) desce carregando instrumentos, um carrinho de bebê na embalagem, uma caixa com frutas e outra com alimentos industrializados. “Aqui a gente não encontra essas coisas”, diz, sorrindo. Caso quisesse adquirir os mesmos produtos na Coreia do Norte, ela precisaria recorrer aos altos preços do mercado negro. Praticamente sem indústrias, o país depende da importação – e do contrabando – de mercadorias chinesas. Um rapaz uniformizado desce da locomotiva empurrando um carrinho com seis caixas de bananas, um pacote de garrafas de água mineral e duas caixas de pêssegos. De cabelos grisalhos e pele queimada do sol, um senhor faz várias viagens para descer meia dúzia de pacotes enrolados com plástico preto. “Roupas para vender”, diz o guia. “Ele vai toda semana para lá a trabalho e na volta traz encomendas. Ganha muito mais  com isso do que trabalhando para o governo”, completa.

A entrada de produtos chineses é reflexo da economia local, uma das mais fechadas do mundo – mais de 88% das relações comerciais da Coreia do Norte são com a China (US$ 6,45 bilhões em 2013). Mas os dias de bonança promovidos primeiro pela União Soviética e nos últimos anos pela China estão em declínio. “A China já não é mais o forte aliado norte-coreano que vinha sendo nos últimos anos”, disse à GQ Wang Dong, professor da Universidade de Pequim e um dos maiores especialistas chineses nas relações entre os dois países. “O governo e o povo chineses estão descontentes com as atitudes de Pyongyang, com as provocações à Coreia do Sul e aos EUA. Os sinais do distanciamento ficaram claros quando a China apoiou as novas sanções da ONU contra a Coreia do Norte, algo inédito nas relações entre as duas nações.” O país sofre ainda embargo severo dos Estados Unidos: em resposta a notícias de que a Coreia do Norte estaria produzindo armas nucleares em 2006 e 2009, o governo de Barack Obama proibiu a importação de quaisquer produtos, serviços ou tecnologia do regime de Kim Jong-un.

Estado militar O exército do país é o sexto mais numeroso do mundo, com 1,1 milhão de soldados (Foto: AFP)  Estado militar O exército do país é o sexto mais numeroso do mundo, com 1,1 milhão de soldados (Foto: AFP)

Mal chegamos a Pyongyang e, instalados em um ônibus também de fabricação chinesa, seguimos direto para Mansudae (Colina Mansu). Todo visitante precisa, obrigatoriamente, parar ali, depositar flores e curvar-se aos pés das estátuas de Kim Il-sung (o “Sol da Humanidade”, tratamento honorífico criado pelo regime) e de Kim Jong-il, o “Querido Líder” – respectivamente, o avô e o pai de Kim Jong-un, o atual ditador, cuja alcunha é “Supremo Líder”. Ao falar com qualquer integrante do governo, os civis norte-coreanos têm de usar, obrigatoriamente, esses tratamentos ao citarem os líderes. Sob pena, novamente, de ir parar em um gulag. “O povo queria uma estátua com o dobro do tamanho, mas Kim Il-sung disse que não precisava ser tão grande, que o dinheiro economizado poderia ser usado em coisas mais úteis”, diz o guia. “Isso prova o quanto ele era modesto.”
No trajeto até o hotel, é possível perceber que as mudanças ocorridas nos últimos anos fizeram aumentar ainda mais a disparidade entre a capital e outras regiões do país. “Começa pelo número de carros nas ruas, que aumentou muito na capital”, diz o embaixador do Brasil em Pyongyang, Roberto Colin, na função desde 2012. A luz elétrica, porém, ainda é precária: basta cair a noite para o suprimento ser cortado. É assim em toda a Coreia do Norte. Na capital, vitrine do regime comunista, algumas construções continuam iluminadas. Da janela de meu quarto, destacava-se o hotel Ryugyong, prédio de 105 andares em forma de pirâmide que começou a ser erguido em 1987. A parte externa foi concluída, mas a inauguração ainda é uma incerteza.

No país, só pessoas ligadas ao governo podem exercer funções de caráter privado, como abrir estabelecimentos comerciais, sempre abastecidos por produtos chineses. As poucas lojas, porém, servem apenas a estrangeiros. “É caro para os padrões locais, então apenas estrangeiros compram ali”, diz o embaixador Colin. Apesar de ter orientado os países a fechar as embaixadas no meio do ano passado (o que acabou não passando de mais uma bravata do regime), o ditador tem tentado se aproximar das representações diplomáticas instaladas no país, segundo o embaixador. Colin encontrou o líder norte-coreano pessoalmente três vezes e afirma que ele se mostrou “simpático”. “O medo dele é de começar um processo de abertura e perder o controle, como na União Soviética. Deve levar anos.”

Metrô é reflexo do atraso de Pyongyang, capital e cidade mais "moderna" do país (Foto: AFP)  Metrô é reflexo do atraso de Pyongyang, capital e cidade mais "moderna" do país (Foto: AFP)

Outrora consideradas as mais belas mulheres do país, as guardas de trânsito não são mais vistas com tanta frequência nos cruzamentos. Com a instalação de semáforos na cidade, elas não precisam mais ficar no meio da rua controlando o trânsito. Entram em ação mesmo é quando falta luz – o que não é nada raro. Uma foto de satélite noturna captada pela Nasa em 2012 mostra a diferença no desenvolvimento entre a Coreia do Norte e os países ao redor. Enquanto Coreia do Sul, China e Japão estão plenamente iluminados, a Coreia do Norte está no escuro, com pouquíssimos focos de luz.
No saguão do hotel Yanggakdo, chamado de “Alcatraz” por ficar numa pequena ilha e um dos que mais recebe turistas do país (e onde fiquei hospedado), está mais um exemplo da parca tecnologia local: o único computador, sem internet, permanece desligado. Como meio de comunicação, além do telefone, a recepcionista indica o envio de cartas. Ao chegar ao restaurante giratório no topo do prédio de 47 andares, converso com um turista chinês, que tem parentes na Coreia do Norte. “Não existe liberdade aqui, você olha as pessoas na rua e elas não parecem felizes”, diz Jing Ming Jie, empresário de 58 anos. “Trinta anos atrás a China também era assim.”
A separação das Coreias do Sul e do Norte em dois países deu-se após a Segunda Guerra Mundial, quando Estados Unidos e União Soviética fizeram um acordo para dividir a península coreana na altura do paralelo 38. Kim Il-sung, que passou parte da juventude na Rússia, foi levado pelos soviéticos ao poder. Declarando-se governante de toda a península coreana, ele invadiu o sul em 25 de junho de 1950 e deu início à Guerra da Coreia. Com apoio dos soviéticos e da China, conseguiu tomar a maior parte da península, mas o país foi quase dizimado quando os Estados Unidos entraram no conflito. Em três anos de batalhas, morreram 54 mil soldados norte-americanos e 2 milhões de soldados coreanos. Cerca de 1,5 milhão de civis foram feridos, mortos ou dados como desaparecidos. O armistício assinado em 27 de julho de 1953 encerrou os conflitos e restabeleceu a fronteira, mas os dois países permanecem oficialmente em guerra até hoje. Desde então, não há comunicação entre sul e norte, seja por telefone, fax, internet ou correio.

Pirâmide: a construção do hotel Ryugyong, de 105 andares, começou em 1987 e nunca foi finalizada (Foto: AFP)  Pirâmide: a construção do hotel Ryugyong, de 105 andares, começou em 1987 e nunca foi finalizada (Foto: AFP)

Com a morte de Kim Il-sung, em 1994, seu filho Kim Jong-il assumiu o poder. Ele morreu em 2011 e deixou o cargo para o filho mais novo, Kim Jong-un. É o único país comunista no mundo com governo hereditário, como numa monarquia.
Segundo dia de viagem, o ônibus parte às 8h da manhã em direção ao Museu Internacional da Amizade, em Myohyangsan. Ao meu lado senta-se Paek Chol Nom, guia norte-coreano que morou oito anos em Cuba na década de 90 e fala espanhol. Filho de um general já aposentado do Exército Popular da Coreia, ele se considera afortunado. “Poucos conterrâneos têm a oportunidade de estudar fora do país”, diz. Chol Nom também fala chinês, o que lhe garante emprego com salário mensal equivalente a R$ 185, bem acima dos R$ 10 da maioria dos trabalhadores do país. Grávida do segundo filho, sua mulher é professora de música na Universidade Kim Il-sung e ganha R$ 260 mensais. Assim que a criança nascer, a família será acomodada em um apartamento de três quartos. As moradias, que legalmente pertencem ao governo, são distribuídas entre os cidadãos de acordo com a posição social. Mas isso não impede operações no mercado negro.
É comum pessoas se mudarem para lugares menos confortáveis em troca de dinheiro. Chol Nom pretende entrar no ramo de comércio de produtos chineses e cubanos. “Tenho muitos contatos nesses dois países e conheço muita gente no governo, por causa do meu pai.” Isso, segundo ele, facilitaria a obtenção do documento sem o qual é impossível ter um negócio próprio. Pessoas sem contatos no governo passam a vida como funcionários de baixo salário ou atuam no mercado negro de mercadorias e serviços.

A estrada que leva até Myohyangsan, larga e deserta, mostra sinais de descuido e é mais uma herança da época em que a Coreia do Norte era um país desenvolvido e mais rico que a do Sul. Com a derrocada da União Soviética no início dos anos 90, o país perdeu seu maior aliado militar e comercial. Sem o dinheiro da potência socialista, Kim Il-sung deixou de investir em infraestrutura e a produção de alimentos despencou, causando uma fome que matou 2 milhões de pessoas, cerca de 10% da população do país – essa é a estimativa mais aceita, já que é impossível saber tanto o número de mortos durante a “Grande Fome” como a própria população do país.

Sobrevivente relata tortura aplicada a presos políticos (Foto: Reprodução)Sobrevivente relata tortura aplicada a presos políticos (Foto: Reprodução)

Com o aumento das transações comerciais com a China nos anos 2000, a Coreia do Norte finalmente conseguiu estabilizar a oferta de comida. “A China fornece o mínimo necessário para que o regime norte-coreano não entre em colapso”, aponta o professor Wang Dong. Ainda assim, milhares de pessoas cruzam a fronteira com a China em busca de melhores condições, geralmente na Coreia do Sul. Os que conseguem chegar são poucos. Foram apenas 1.217 em 2012, número 50% menor que no ano anterior. Muitos são capturados e levados a campos de detenção – onde hoje vivem, segundo a ONU, entre 80 mil a 120 mil presos políticos em condições degradantes. Muitos outros são impedidos de fugir do país pelos guardas de fronteira, que os alvejam pelas costas.
O Museu Internacional da Amizade, construído em 1978 para exibir os presentes enviados aos líderes norte-coreanos por personalidades de todo o mundo, é parada obrigatória (literalmente) para os turistas. Quem quiser visitar o país tem de passar duas horas nos largos corredores da luxuosa construção que ostenta exatos 122.250 presentes de 184 países. Tudo, é claro, para mostrar como os “Queridos Líderes” são “respeitados e amados” no mundo inteiro. Ao saber que sou brasileiro, o guia faz questão de mostrar uma bola assinada por Pelé.

De volta a Pyongyang, somos levados a uma escola onde crianças apresentam um show musical enaltecendo os líderes. No pátio interno, alunos se divertem em pequenos grupos. Sentados no chão, uns conversam e riem. Mais ao fundo, outros ensaiam passos de marcha. Desconfiados, alguns param de falar e ficam me olhando, outros se escondem. “Aqui eles aprendem informática e acessam a internet”, diz o guia, apontando para uma sala com 25 modernos computadores e um projetor.  Desde cedo, na escola, eles aprendem a filosofia Juche, doutrina alienante criada pelo avô do atual ditador, cujo conceito básico é o “espírito da autossuficiência”.  Trata-se de uma mistura de legislação, religião e estratégias militares que se baseia na ideia paradoxal de que “o homem pode decidir tudo”, desde que sob o comando de um “líder talentoso” – no caso, um ditador. Como a doutrina prevê que o país seja autossuficiente da indústria à agricultura, é um dos principais motivos para o isolamento da Coreia do Norte. A propaganda abundante, com imagens, estátuas e outdoors onipresentes, faz parte dessa filosofia.
Nos livros que explicam o Juche, as crianças aprendem que Kim Il-sung é um ser divino e que o nascimento de Kim Jong-il foi marcado por uma estrela radiante e um arco-íris duplo. Desde pequenos são ensinados que é preciso chorar na presença dos líderes. As cenas de aparecimento público dos ditadores são eventos marcantes: na tentativa de agradar aos pais e ao partido, uma criança sempre chora mais que a outra, e promovem cenas inimagináveis para padrões ocidentais – para elas, é como se estivessem diante de um deus. Com o bloqueio das informações de fora, a alienação segue. Mesmo assim, pelo menos nessa área, o isolamento parece estar cedendo: a devoção ao jovem Kim Jong-un é mais superficial que a dispensada ao pai e ao avô, garante o reverendo Tim Peters, da ONG Helping Hands Korea, que há 16 anos trabalha com refugiados norte-coreanos. “O povo está começando a entender que eles não são divinos. Só não o demonstram porque têm medo das represálias”, afirma.

Duas vezes ao ano, todos os cidadãos coreanos precisam ficar durante 10 dias trabalhando nos campos de arroz (Foto: Richard Amante)Duas vezes ao ano, todos os cidadãos coreanos precisam ficar durante 10 dias trabalhando nos campos de arroz (Foto: Richard Amante)

No metrô, turistas são proibidos de conversar com os mais de 500 mil norte-coreanos que utilizam o serviço diariamente. Tirar fotos, por outro lado, é encorajado, como propaganda do “moderno sistema de transporte” do regime. Escadas rolantes levam os passageiros a 100 metros de profundidade, onde trens importados da Alemanha Oriental esperam ao lado de uma plataforma decorada com luzes coloridas e colunas entalhadas. Do lado de fora, outdoors exibem frases como “se o partido manda, nós cumprimos”, “não temos nada a invejar do exterior” e “vamos amar Kim Il-sung, eterno presidente”.

Nosso ônibus segue em direção à Zona Desmilitarizada, conhecida como DMZ. É o terceiro dia de viagem. Criada pelo armistício de 1953 na divisa entre as duas Coreias, a DMZ tem 250 quilômetros de comprimento e 4 quilômetros de largura – e é, apesar do nome, a área mais fortemente militarizada do mundo. Ali dentro, na vila de Panmunjeon, fica a Área de Segurança Conjunta, onde estão os sete prédios usados nas negociações entre os dois países, construídos na divisa, metade para cada lado.
Os guardas do sul e do norte, que vivem a poucos metros de distância e falam a mesma língua, não podem se comunicar. Um gesto mal interpretado pode gerar um impasse diplomático que poderia iniciar uma guerra. Do lado sul-coreano, dois militares da Suécia, funcionários da ONU no local, caminham sem desviar o olhar dos turistas do lado norte. “Não façam nada que possa irritá-los”, avisa o guia.
O investimento nas Forças Armadas é inversamente proporcional às possibilidades do país. A Coreia do Norte tem o sexto maior exército do mundo, com 1,1 milhão de soldados. Porém, segundo depoimentos de refugiados, as armas, tanques, navios e mísseis estão obsoletos.
Após o almoço, entramos em Kaesong, cidade histórica reconhecida em 2013 como Patrimônio da Humanidade. Painéis solares instalados nas casas indicam que o fornecimento de energia ali está longe do ideal. Ao final da visita ao Museu Koryo, última parada da viagem, me aproximo de um grupo de jovens que jogam vôlei. O guia não aprova e esboça uma proibição, mas em seguida junta-se a nós.

Na fronteira, mais uma vez o trem fica parado por duas horas. A senhora que trouxe a Bíblia é convidada a mostrar que está saindo com o livro. Ao voltar a Dandong, já na China, observo os caminhões que, em série, esperam para cruzar a fronteira – estima-se que 80% dos produtos negociados entre a Coreia do Norte e outros países passem por ali. À noite, um comerciante que não quis se identificar me leva ao ponto do Rio Yalu onde as margens mais se aproximam. “É por ali que as mercadorias contrabandeadas chegam à Coreia, e é por ali que as pessoas que fogem para a China costumam atravessar”, ele diz.  O rio ali – atrás do Parque Hushan, onde fica o trecho mais ao norte da Muralha da China – tem pouco mais de dez metros de largura.
Segundo depoimentos de refugiados, é por aquele ponto que entram especialmente os artigos de luxo (relógios, vinhos, home theaters, equipamentos para montagem de saunas...) cuja importação é proibida pelo regime – ao menos para a população comum. “Os produtos seguem em caixas, sempre à noite, quando a lua está escondida. Alguns pagam propina aos guardas para cruzar com tranquilidade”, diz o comerciante. Com os embargos, o isolamento do país e a escassa oferta de produtos no mercado formal, resta à elite de Pyongyang, geralmente integrantes do próprio partido que sustenta o regime comunista, comprar produtos no mercado negro.

 

Fonte: http://gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2014/04/cortina-de-chumbo-um-panorama-sobre-o-cotidiano-na-coreia-do-norte.html

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO APÓS A DÉCADA DE 30: DO AGRÁRIO AO URBANO INDUSTRIAL–DE 1930 à 1990

ESPAÇO PRÉ-INDUSTRIAL: A ECONOMIA DE ARQUIPÉLAGO

Uma longa fase se entende a inserção do país na divisão internacional do trabalho, no século XVI até as primeiras décadas do século atual caracterizada por uma economia agrário-exportadora”.

Do ponto de vista da organização espacial, essa fase produziu um território nacional que no começo do século XX se apresentava essencialmente desarticulado, os autores que têm escrito sobre o Brasil associam essa desarticulação à idéia de arquipélago econômico (..) o país possuía uma economia nacional formada por várias economias regionais.

Não existia, de fato, uma divisão regional interna do trabalho em dimensão nacional. As diversas regiões se ligavam diretamente a centros do capitalismo mundial. Tinham em comum um crescimento para fora.

A expansão da economia cafeeira em áreas do atual Brasil do Sudeste, a partir das primeiras décadas do século XIX, adquire expressão no comércio internacional em meados do século, criando uma economia dinâmica (...). Constitui-se essa região Sudeste em um mercado de consumo que criou as condições para a penetração de produtos industrializados pelos portos de Santos, do Rio de Janeiro e para o desenvolvimento do comércio e de uma classe de comerciantes importantes nessa praça e em São Paulo. Permitiu, também, a penetração por cabotagem ou vias internas de produtos alimentícios que levara a formação de economias (e espaços) complementares (...).

(Lea Goldstein e Manoel F. G. Seabra. Divisão Territorial do Trabalho e nova regionalização. Apud MAGNOLI, 1992)

O texto refere-se à organização da economia brasileira agrário-exportadora, assim caracterizada:

· Monocultura de exportação (cana-de-açúcar, algodão, cacau, café, além do pólo da borracha);

· Fraco comércio interno;

· Grande importação de produtos industrializados, principalmente para o Sudeste;

· Poder político e econômico centralizado nas mãos dos “barões do café”;

· Concentração populacional nas áreas rurais (campo);

· Concentração da terra (latifúndios) nas mãos de grandes latifundiários;

· Desarticulação regional.

A INDÚSTRIA NO BRASIL

Costuma-se dizer que a indústria brasileira nasceu tardiamente e na dependência de tecnologia externa, pois o primeiro surto industrial do Brasil ocorreu um século depois de deflagrada a Revolução Industrial (segunda metade do século XVIII).

Para MAGNOLI (1992), a industrialização brasileira pode ser dividida em duas etapas históricas: “o primeiro surto acompanhou o crescimento da economia cafeeira capitalista de São Paulo”. Considera a Revolução de 30 o concentravam no Oeste paulista. Por que essa concentração industrial em São Paulo? Eis os principais motivos:

1) A economia cafeeira gerou um mercado consumidor interno (classe média, trabalhadores e imigrantes);

2) A concentração da força de trabalho (imigrantes, nas épocas de crise do café);

3) A infra-estrutura ferroviária que servia à região cafeeira (transporte de carvão e ferro para as indústrias);

4) A concentração de capitais (exportação de café);

Vejamos como se estabelecia a relação entre a economia cafeeira dominante e a economia industrial crescente:

a) Crise de superprodução do café e queda do preço no mercado mundial:

1) Recuo da plantação;

2) Êxodo de trabalhadores para as fábricas;

3) Queda das exportações;

4) Crescimento da indústria, via empréstimos bancários;

b) Recuperação cafeeira:

1) empréstimos bancários para as plantações;

2) importação de produtos industriais (melhores e mais baratos);

3) crise e falência dos seringais.

O início da segunda fase da industrialização é marcado pela crise da Bolsa de Nova Iorque (1922). Essa crise provocou uma contração dos mercados consumidores dos países desenvolvidos e derrubou os preços das mercadorias de exportação dos países de economia agrária, como o Brasil. Os reflexos dessa crise no Brasil foram desastrosos: além da queda do preço do café, cai também a oligarquia cafeeira, derrubada pelo movimento revolucionário de 1930. A classe média e a burguesia comercial chegam ao poder juntamente com Getúlio Vargas.

No período de 1930 até a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) ao mesmo tempo em que freou o crescimento industrial, devido à redução das importações de máquinas e equipamentos, estimulou a substituição dessas importações por produtos nacionais. A “Era Vargas” foi a “Era das indústrias nacionais”: em 1941 é criada a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); em 1942, cria-se a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).

“No pós-guerra, a criação da indústria de bens de produção voltaria a se associar ao nome de Getúlio Vargas. Em 1951 é inaugurada a Usina de Paulo Afonso (...). Em 1953 surgia a Petrobrás e, com ela, um gigantesco esforço voltado à produção, o refino e o transporte do petróleo organizado sob o signo do monopólio estatal.”

(MAGNOLI, 1992)

A partir da década de 50 a industrialização brasileira sofreu uma forte aceleração. No governo de JK é reorientada a política industrial brasileira, enfatizando-se a abertura do país aos investimentos estrangeiros diretos. O seu “Plano de Metas” (50 anos em 5) tinha como fundamento a implantação de um sólido parque automobilístico, com a tecnologia dos EUA e da Europa. O governo brasileiro estimulou os investimentos estrangeiros de várias maneiras: liberando as importações de máquinas e equipamentos, criando mecanismos de créditos, instalando programas rodoviários,

energéticos e siderúrgicos, dentre outros. As firmas estrangeiras também estavam interessadas na exploração das matérias-primas e da mão-de-obra brasileira (forte e mal remunerada).

Esse processo de industrialização dependente e acelerado que vai do pós-guerra até meados da década de 70, caracterizada a ruptura com o modelo agroexportador e encerra a fase típica de substituição de importação (produção interna dos bens industriais que antes eram importados).

A DIVISÃO DO TRABALHO NA ECONOMIA INDUSTRIAL

Quais foram as conseqüências desse processo de industrialização?

Leia atentamente os textos transcritos e tire suas conclusões:

“... A concentração industrial no Sudeste transformou toda a economia do país, criando um mercado interno nacional. O Sudeste”.

Os manufaturados do Sudeste, produzidos com tecnologia superiro e em escala industrial , invadiram todo o país. A competição desigual com as mercadorias fabricadas nas outras regiões resultou no predomínio da indústria no Sudeste.”“.

(Magnoli, 1992)

Com a industrialização começa a ocorrer uma integração do território: a criação de um espaço industrial. A nova forma de organização do espaço orienta-se segundo um esquema de centro a periferias”.

O centro econômico do Brasil, bastante urbanizado e industrializado, é constituído por São Paulo e Rio de Janeiro (...)

O restante do país é constituído pelas várias periferias, algumas mais industrializadas e a grande maioria com economia baseada na agropecuária ou na mineração. As periferias recebem do centro produtos industrializados e fornecem a ele mão-de-obra e matérias-primas ““.

(Versertini, 1989)

Podemos observar que São Paulo e Rio de Janeiro passaram a comandar o mercado nacional, constituindo em todo território regiões que passaram a se articular por meio de suas especialidades. Surge uma divisão do trabalho na economia nacional, assim caracterizada:

· o Centro-Sul tornou-se a região mais industrializada e urbanizada do Brasil e surgiu como expressão de modernidade e de integração econômica;

· o Nordeste caracterizava-se como região de economia deprimida e como área de emigração intensa para o Centro-Sul. A crise social e bolsões de miséria marcam o espaço geográfico nordestino.

· A Amazônia parece como imensa reserva povoada e como futura fronteira de expansão da economia industrial nacional.

Finalmente analisaremos o processo de urbanização do Brasil.

Embora a lavoura cafeeira tenha contribuído para a formação de pequenas e médias cidades, o processo de urbanização do país tem início no século XX, com a industrialização.

A indústria passou a atrair uma grande quantia de pessoas que migram (saíram) do campo para a cidade, dando início a urbanização. A partir de então, a população das cidades passou a crescer mais que a população rural do país. Exemplificando: de 1970 a 1991 a população urbana brasileira passou de 56% para cerca de 74%. Quais as conseqüências dessa urbanização acelerada?

Como vimos, o processo de industrialização desencadeado a partir de 1930 transformou o espaço geográfico brasileiro. A concentração populacional no espaço urbano, a ascensão política da burguesia industrial e comercial, a criação de um mercado interno integrado e dependente do Centro-Sul, a concentração industrial (e no poder econômico) no Sudeste, o assalariamento quase generalizado da força de trabalho, são algumas conseqüências da industrialização do Brasil.

A (re) organização do espaço interno brasileiro, no qual o centro econômico nacional (Sudeste) comanda as outras regiões (periferias), é uma reprodução da organização espacial do capitalismo mundial, no qual existem o centro (países desenvolvidos) e a periferia (países subdesenvolvidos). Como nos diz Versetini (1989):

Devemos ter em vista ainda o fato de que o centro econômico nacional, quando considerado sob um ângulo internacional, na realidade é uma parte da periferia do sistema capitalista como um todo, cujas metrópoles mundiais são Nova Iorque , Tóquio, Londres, Berlim, Paris e outras.”

O BRASIL NA ECONOMIA GLOBAL

BRASIL, PAÍS SUBDESENVOLVIDO INDUSTRIALIZADO

As décadas do pós-guerra conheceram um crescimento sem precedentes da economia mundial. Sob a liderança dos Estados Unidos, as reconstruções européias e japonesas forjaram uma profunda integração internacional dos mercados e uma forte expansão da produção.

Simultaneamente, ocorria uma mutação estrutural no funcionamento da economia capitalista, com a descentralização geográfica da indústria. O conglomerado industrial transnacional americano, europeu e japonês transpunha as fronteiras políticas da periferia do mundo capitalistas. Um grupo seleto de países subdesenvolvidos ingressava na economia industrial moderna.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a América Latina, a Ásia e a África apresentava um duplo interesse para os capitais dos países desenvolvidos: constituíam mercados consumidores de manufaturados e fornecedores de matérias-primas e produtos agrícolas. Os investimentos estrangeiros diretos dos países subdesenvolvidos praticamente limitavam-se aos setores ferroviário e elétrico, á mineração e às plantations.

No pós-guerra, um grupo de países subdesenvolvidos aparece como alvo de investimentos estrangeiros diretos no setor industrial. A antiga paisagem homogênea da periferia capitalista – formada por exportadores agrícolas e minerais – começava a se diferenciar. Países como o Brasil, o México, a Argentina, o Chile e a África do Sul sofrem vastas transformações na estrutura das suas economias, trocando o modelo econômico baseado na exportação agrícola ou mineral pelo modelo urbano-industrial.(fig.01)

A descentralização geográfica da industria mundial gerou uma industrialização seletiva, restrita a um número mais ou menos reduzido de países. Os países que atraíram investimentos de países diretos de capitais transnacionais ofereceriam vantagens em três níveis principais; A sua força de trabalho, fracamente qualificada e em organizações sindicais poderosas, apresentavam custos muitos inferiores aos dispendidos como a mão-de-obra dos países desenvolvidos. O processo de urbanização gerava um mercado interno relativamente amplo, capaz de absorver uma oferta crescente de bens de consumo duráveis como automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, etc. A etapa econômica anterior, fundada no modelo exportador originara infra-estruturas de transportes e comunicações, facilitando a circulação de mercadorias.

ATIVIDADE EXTRATIVA DA BORRACHA

Na última década do século XIX, o desenvolvimento da indústria automobilística na Europa e nos Estados Unidos promoveu uma grande demanda pela borracha, matéria com a qual os pneus dos automóveis são produzidos.

A utilização crescente da borracha em escala industrial trouxe novos interesses pelas “terras do Amazonas”. A região amazônica, com sua floresta repleta de seringueiras (árvore de onde se extrai o látex, matéria-prima da borracha), tornou-se pouco tempo o principal centro fornecedor das indústrias norte americanas.

A situação privilegiada alcançada pela borracha no mercado internacional promoveu uma corrida aos seringais da Amazônia. A seiva das árvores criava grandes fortunas para os proprietários de terras e para as companhias de exportação.

A Amazônia foi redescoberta. Crescia dentro de suas árvores uma nova riqueza a ser explorada. Foram organizadas grandes empresas de extração e comercialização da borracha. Estas empresas se apropriaram de vastas áreas ricas em seringais, constituindo imensos latifúndios. A Mello & Cia, por exemplo, de propriedade do então senador Antônio José Pinto e do barão Souza Lajes, possuía mais de sessenta mil hectares de seringais.

As seringueiras encontravam-se dispersas no interior da floresta amazônica, heterogênea e fechada. O interesse das empresas não estava nas terras em si, mas nas seringueiras que nela nasciam, conduzindo a uma apropriação de imensas áreas.

Para expandir seus negócios e garantir a exclusividade da extração e comercialização da borracha, algumas empresas conseguiram concessões junto ao governo párea navegação em determinados rios. Com a exclusividade da navegação, as empresas mantinham o acesso aos seringais sob seu controle, evitando o aparecimento de concorrentes. Das terras do baixo curso do rio Amazonas até as terras banhadas pelos rios Madeira , Purus e Juruá, multiplicaram-se os postos de fiscalização.

Os postos de fiscalização foram estabelecidos nas margens dos rios para garantir os seringueiros, homens encarregados de extrair e defumar o látex e só entregassem a borracha às empresas que os contratavam, das quais tinham de comprar também os mantimentos.

Da floresta, a borracha era conduzida em embarcações através dos rios até os postos de Manaus e Belém. Destes portos os navios cargueiros saíam levando a produção para a Europa e EUA...

A Inglaterra foi a principal compradora da borracha, controlando a distribuição no mercado internacional.

O EXÉRCITO DA BORRACHA

clip_image002

Os nordestinos formavam o “exército da borracha” e construíam, na sua solidão e miséria, a riqueza dos “marajás” de Belém e Manaus.”

“As gentes do Ceará e do Maranhão, que trocam sua terra pela Amazônia, não são menos desgraçadas que os nossos camponeses, que trocam Portugal pelo Brasil. A sua luta é uma epopéia assombrosa, de que não ajuíza quem, no resto do mundo, se deixa conduzir veloz e comodamente nos automóveis com roda de borracha, da borracha que esses homens tiram da selva misteriosa e implacável.”

(Ferreira de Castro, escritor português)

Ninguém poderia imaginar que no “coração” de uma floresta equatorial surgisse uma cidade encantada com palacetes luxuosos, comércio ativo e uma vida cultural e social que acompanhava todas as novidades européias. A cidade encantada dos “marajás da borracha” era Manaus.

Todo o encanto e riqueza da cidade de Manaus, e até mesmo da cidade de Belém, foram produzidos por um conjunto de trabalhadores anônimos, que viviam em condições subumanas: os seringueiros.

Entre 1877 e 1880 a região Nordeste, em particular o Ceará, conheceu um dos seus maiores e mais intensos períodos de seca. Os leitos dos rios secaram, o solo ficou endurecido pela falta de umidade, morreram as plantas e o gado. A fome e a morte acompanhavam os homens em cada palmo de terra.

As graves conseqüências da grande seca tornaram-se maiores pela desigual distribuição das terras. No Nordeste a maioria das terras era propriedade de poucos, que constituíam imensos latifúndios, enquanto um enorme contingente da população rural não possuía sequer um pedaço de terra para o seu próprio sustento.

Se a seca afetou a produção de alguns latifúndios, suas conseqüências foram trágicas para os trabalhadores sem terras e sem famílias.

Multidões famintas e desesperadas chegavam às cidades e vilarejos. Temendo uma situação política incontrolável, o governo estabeleceu uma política de migração, orientando os flagelados da seca para a Amazônia.

Navios a vapor, abarrotados de nordestinos, chegaram ao porto de Belém e ao porto de Manaus. Era o exército da borracha... a mão-de-obra para os seringais.

Um dos personagens do romance “A Selva”, do escritor Ferreira de Castro, conta o seu destino:

“Eu tenho estado sempre a dever, não há maneira de vencer aquela conta! Quando seu Alípio foi ao Ceará buscar o pessoal, me disse que um homem enriqueceu logo que chegou aqui. Eu acreditei naquela lorota e, afinal, ainda não paguei a passagem. Eles, assim que nos chegamos aqui, já não dizem mais coisas bonitas. Vendem tudo mais caro, que é para o seringueiro não arranjar saldo e ficar à vida toda nestas brenhas do diabo.”

O lavrador, transformado em seringueiro, já saía de sua terra devendo a passagem no “vapor”. Quando chegava, as dívidas aumentavam. Devia o dinheiro emprestado para chegar ao seringal e a comida dos primeiros meses de trabalho.

O destino do nordestino era um duro trabalho, em troca de um salário que mal pagava as contas com o patrão.

Os nordestinos, na sua maioria cearenses tornaram-se a principal força de trabalho dos seringais, dando duro desde o raiar até o pôr-do-sol, em plena floresta, extraindo a seiva das árvores.

A malária e a solidão da choupana acompanhavam o seringueiro na espera das embarcações, que chegavam aos portos de fiscalização trazendo os alimentos cada vez mais caros, e levando a borracha produzida pelo seu suro diário em troca de um minguado salário.

Mais de quinhentos mil n0rdestinos dirigiram-se para Amazônia. Entre 1870 e 1900, a população do Pará e do Amazonas passou de 329.000 para 695.000 habitantes. Muitos foram conduzidos a lugares mais distantes, ocupando uma região que, anos mais tarde, se transformaria no atual estado do Acre, na época pertencente à Bolívia.

O ESPLENDOR CONHECE O SEU FIM

O “mundo encantado” produzido pela exploração e comercialização da borracha logo conheceu o seu fim.

A Inglaterra não estava mais disposta a exercer somente o papel de intermediária na comercialização da borracha amazônica. Em 1876, uma expedição de botânicos ingleses recolheu muda de seringueiras, que foram levadas para o Ceilão e para Singapura, na Ásia. Cultivadas em terras férteis, as seringueiras se desenvolveram, dando origem a grandes plantações. Os ingleses agora controlavam não só o comércio, mas também a produção da borracha.

No início do século XX, a borracha produzida na Amazônia encontrava um sério concorrente. O tempo encantado da riqueza dos “marajás da borracha” começava a chegar ao seu fim.

Para os nordestinos, o caminho aberto em direção à Amazônia em 1887 jamais seria fechado. Pode-se dizer que a Amazônia se constituiu a partir de então em uma válvula de escape da crise social e econômica do Nordeste. Na medida em que os nordestinos migram, a tensão social na região diminui, permanecendo a estrutura agrária do latifúndio.

Terminado o ciclo da borracha, muito daqueles nordestinos se transformaram em posseiros, vivendo perdidos no meio da floresta até época muito recente, quando os grandes empresários do Sul e do Sudeste “descobriram” a Amazônia.

Para viver na floresta, os seringueiros aprenderam com os índios sobre frutos, as ervas medicinais, os peixes, etc. toda essa cultura indígena-seringueira acha-se ameaçada pela chegada das grandes empresas pecuaristas e madeireiras que queimam a floresta e, com isso, “queimam” essa cultura.

AS DROGAS DO SERTÃO

A região do vale do rio Amazonas teria passado ao largo dos interesses se a coroa portuguesa não tivesse perdido suas feitorias orientais, fornecedoras de especiarias valorizadas no mercado europeu - a canela, o cravo e gengibre.

As primeiras tentativas de ocupação do vale do Amazonas foram empreendidas por expedições militares, que estabeleceram postos de defesa para impedir a penetração de estrangeiros (ingleses, franceses, holandeses) na região.

Seguiram-se novas expedições para a conquista do território. A descoberta de especiarias, chamadas de “drogas do sertão”, animaram os colonizadores a ocupar o vale do Amazonas.

A imensa rede de rios navegáveis formada pelo Amazonas e seus afluentes transformou-se em verdadeiras "estradas naturais" para a penetração. Utilizando as vias fluviais, os colonizadores imprimiram sua marca por onde passaram, erguendo acampamentos e pequenos povoados ribeirinhos - seguiram as pistas dos primeiros colonizadores, os missionários.

Para colonizar as terras e extrair a riqueza da floresta, era necessário colonizar os indígenas através da espada e do arcabuz; de outro, os que subjugavam os indígenas através da região.

Os primeiros faziam parte das tropas de resgate, colonizadores interessados na escravização dos índios para utilizá-los na coleta de especiarias e nas lavouras em torno dos povoados. Os outros, os missionários, mantinham os indígenas sob o seu controle com a prática da catequese.

A expansão dos missionários foi, sem nenhuma dúvida, de importância especial para a dominação colonial na Amazonas. Jesuítas, franciscanos e carmelitas promoveram expedições, penetrando nas matas e organizando diversas missões.

A expansão dos missionários foi, sem nenhuma dúvida, de importância especial para a dominação colonial na Amazônia. Jesuítas, franciscanos e carmelitas promoveram expedições, penetrando nas matas e organizando diversas missões.

Entretanto, a colonização através da catequese não estava separada dos interesses econômicos. Os indígenas catequizados e reunidos nas missões trabalhavam na lavoura, produzindo alimentos para o sustento das atividades missionárias. Além do trabalho nas lavouras, os indígenas coletavam na floresta a canela, a castanha-do-pará, o cacau, a salsa parrilha e as essências para perfumes. As drogas do sertão eram um negócio lucrativo e enriqueceram as ordens religiosas, especialmente a dos jesuítas.

A força do trabalho do índio foi um elemento fundamental para a expansão da região amazônica. Os índios habitantes nativos povoadores da Amazônia, conheciam a floresta e os cursos dos rios. Sabiam melhor do que ninguém onde encontrar e como alcançar os frutos da terra, tão cobiçados pelos colonizadores religiosos ou leigos.

O ciclo das drogas do sertão nos séculos XVII e XVIII inicia um capítulo dramático e brutal na destruição da Amazônia, em especial da vida indígena, onde a exploração e a destruição das tribos se fez com indisfarçável violência.

A OCUPAÇÃO DO SUL DO BRASIL

O extremo Sul do que viria a ser o território brasileiro foi palco de uma renhida disputa entre Portugal e Espanha. Quando se consolidou o domínio português, com o Tratado de Santo Idelfonso, começou a ocupação mais efetiva com a condição de sesmarias.

Os paulistas foram os primeiros a chegar, formando grandes propriedades nos campos de Viamão e de Vacaria, onde a pecuária se destacava.

Com o ciclo do ouro nas Minas Gerais apareceu a primeira oportunidade do sul do Brasil se articular com o resto da colônia. O ciclo do ouro desenvolveu-se no interior de Minas, distante, portanto, do porto do Rio de Janeiro.

A solução para o transporte dos foi encontrado na aquisição do gato muar como animais de carga. O Sul Brasil se destacou na produção desse gado nos campos de Viamão. O gado era transportado da campanha gaúcha, atravessando os campos Lajes e Santa Catarina, os campos gerais do uso do índice no Paraná, passando por Sorocaba em São Paulo, antes de chegar à região do ouro.

Com declínio na mineração, o começo das "bestas de Viamão" deixa de ser atrativo. Entretanto, com a introdução da conservação da carne através da "charqueada" por parte de retirantes cearenses que se dirigiam para o sul com a seca de 1777, novas possibilidades se abriram para a economia do sul do país. A pecuária sulina e reorientada para a criação do gado bovino, que abastecera RJ, SP e até o nordeste açucareiro.

A campanha gaúcha gozava de condições naturais no do melhores que as das cantinas nordestinas e do cerrado de Minas Gerais e Mato Grosso. Os pampas sempre verdes e o relevo suave eram excelentes pastagens naturais, criando um gado de melhor qualidade.

O sistema de criação, no entanto, pouco deferia socialmente das demais áreas da colônia. A grande propriedade de terras, a estância e a criação e extensiva foram os traços comuns da atividade desde os tempos coloniais até hoje.

Nas estâncias, além do proprietário, o estancieiro, havia os peões. Estes descendiam em grande parte de indígenas. Nas épocas em que se exigia maior número de trabalhadores, os estancieiros recorriam a população volante da campanha, os peões.

Como a densidade demográfica pequena na campanha gaúcha, a metrópole portuguesa e estímulo à colonização de povoamento através da imigração de açorianos, aos quais eram doadas pequenas propriedades de terra. Os açorianos não só povoaram parte do Rio Grande do Sul, mas também se destacaram no cultivo do trigo, que, além de abastecer as principais cidades brasileiras, chegava a Lisboa. Durante muito tempo a economia do Rio Grande do Sul oscilou entre a pecuária e a cultura do trigo.

No século XIX, com o Brasil já independente de Portugal, o governo imperial e estimulou a imigração de alemães e italianos. Com o objetivo de fixar a população e garantir a posse da região, permitiu-se a pequenas propriedades familiares. Os alemães preferiram os vales, e os italianos, a região serrana.

Desenvolveu-se uma economia diversificada, que ia desde a agricultura até o artesanal. Pouco a pouco, os descendentes dos primeiros imigrantes ocuparam o norte do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina, sempre com base na pequena propriedade familiar. A produção de milho, arroz, feijão, porcos e seus derivados (banha e lingüiça) deu grande destaque a essa região de nova colonização. Na antiga zona colonial, sobressaíram a produção de vinho entres os italianos (Garibaldi, Caixas do Sul) e a de calçado entre os alemães (Novo Hamburgo).

Só muito recentemente, com a intensa urbanização do país e aumento do mercado consumidor, que se fizeram sentir as pressões sobre os colonos, através dos bancos e indústrias, a exigir uma produção maior. Muitos deles se endividaram e foram, obrigados a vender suas terras e buscar outras regiões, particularmente a Amazônia.

A tendência no Sul do Brasil é o sentido de reaglutinação de terras nas mãos dos grandes produtores, sobretudo os de soja,

ATIVIDADE CAFEIRA

clip_image002

A EXPANSÃO

O cultivo do café já era conhecido no Brasil desde 1727, quando as primeiras sementes dessa planta nativa da África brotaram em nossa terra.

No “fundo dos quintais” ou nas pequenas lavouras, apareciam os pés de café, destinados ao consumo doméstico. De pequena lavoura o café toma os rumos da agricultura comercial, tornando-se o principal produto de exportação em 1840.

As plantações de café cresceram na província do rio de Janeiro, ocupando o litoral sul (Manrati, Angra dos Reis, Parti) e o litoral norte (Marica, Itanoraí, Magé). Entretanto, seria na Região do Vale do Rio Paraíba do Sul que desabrocharia a produção cafeeira.

Os solos férteis da mata atlântica, a temperatura amena e as chuvas regulares durante o ano fizeram do vale do Paraíba uma região de condições naturais favoráveis ao desenvolvimento do café.

Associado às condições naturais aparecia um elemento fundamental para a produção cafeeira: a crise da mineração deixava um enorme contingente de escravos disponíveis para o trabalho.

Desde o seu início, a lavoura cafeeira teve a disposição tudo o que precisava para expandir-se terras e mão-de-obra.

Conduzi para o litoral, os caminhos precários e o transporte realizado pelos tropeiros eram obstáculos para o escoamento da crescente produção cafeeira. O caminho mais rápido e o transporte mais eficiente foram encontrados com a instalação das estradas de ferro. Vagões carregados de sacos de café chegavam ao porto do Rio de Janeiro, principal elo de ligação entre a região cafeeira e a exportação para a Europa e para os Estados Unidos.

Entre 1830 e 1870, o vale do Paraíba foi a principal região produtora de café e o centro da economia brasileira. Com o auge do café no vale do Paraíba, o Rio de Janeiro tornou-se o principal porto do país.

A lavoura cafeeira seguiu sua expansão, destruindo a floresta tropical em busca de solos férteis, ocupando as terras de pequenos lavradores e das tribos indígenas. O café invadiu o Sul de Minas e parte do Espírito Santo. Conquistando novas áreas e deixando os solos cansados para trás, o café seguiu sua marcha atingindo o Oeste paulista. Para acompanhar a expansão da lavoura cafeeira, chegaram ao Brasil, entre 1840 e 1850, 371.625 escravos Africanos.

Mas se havia disponibilidade de terras, a mão-de-obra começou a se reduzir com a proibição do tráfico negreiro. Para superar a falta de braços nos cafezais, recorreu-se ao mercado interno de escravos. O Nordeste açucareiro tornou-se a nova fonte de mão-de-obra escrava.

Produtos Agrícolas

Porcentagens sobre o valor da Exportação

Produtos

1841 - 50

1851 - 60

1861 - 70

1871 - 80

1881

Café

Açúcar

Algodão

Fumo

Cacau

Fonte: Canabrava, Alice, “A Grande Lavoura” . In: História geral da civilização brasileira torno II, vol. 4. DIFEL. P. 119

A ORGANIZAÇÃO DA LAVOURA CAFEEIRA

A lavoura cafeeira manteve traços semelhantes aos da lavoura de cana-de-açúcar: a grande propriedade de monocultura, a utilização de escravos e a produtividade do trabalho fundamentada na fertilidade natural dos solos.

A produção do café era um negócio para poucos homens. Somente os riscos podiam constituir fazendas dedicadas a lavoura de exportação.

O café, antes de ser comercializado, passava por diferentes trabalhos no interior da fazenda, além da área de cultivo, a fazenda possuía reservatórios para lavagem do café, terrenos de secagem dos grãos, engenhos para seleção e locais apropriados para guardar a produção.

A organização da lavoura cafeeira só podia ser realizada pelos grandes proprietários de terras e escravos.

Para os fazendeiros, os escravos tinham um duplo papel: produziam café e serviam como garantia para os empréstimos obtidos com os financistas (emprestados de dinheiro) e os bancos.

Pois é, naquela época, quem possuía mais escravos é que tinha mais crédito nos bancos. Dando o escravo como garantia, os fazendeiros conseguiam o dinheiro necessário para comprar equipamento e mais escravo, expandindo cada vez mais a produção.

A expansão do café não se deu apenas em termos de produção, pois foi acompanhada pela expansão territorial. Dois fatores podem explicar esse processo.

O primeiro está intimamente ligado ao aumento do consumo do produto no mercado internacional, estimulando novas plantações.

O outro fator prende-se a utilização da rotação de terras. Novas terras eram constantemente incorporadas através da derruba de matas. Assim, a procura de terras virgens, além da destruição da vegetação natural, criava um sistema extensivo de cultivo que rapidamente desgastava o solo.

INTRODUÇÃO DO TRABALHO LIVRE

A proibição do tráfico negreiro promoveu elevação dos preços dos escravos. Muitos fazendeiros preferiam intensificar mais ainda a exploração dos escravos que possuíam. Outros buscaram novas alternativas para a expansão de suas fazendas.

Da Europa chegaram os novos trabalhadores dos cafezais. Eram, em sua maioria, camponeses empobrecidos em busca de uma vida melhor no Brasil.

Contratados pelos fazendeiros, os imigrantes (suecos, alemão, espanhóis e sobretudo italianos) formaram a força de trabalho, destinada a manter a expansão da lavoura cafeeira.

O regime escravocrata começou a ser substituído pelo regime colonato. Os fazendeiros obtinham financiamento do estado para pagar a viagem e as despesas com a instalação dos trabalhadores europeus. Por seu lado, os imigrantes se comprometiam a pagar o fazendeiro com seu trabalho.

Os colonos só recebiam pagamento na época da colheita, comprado pelo próprio fazendeiro que os contratava. Enquanto não chegava a colheita, o colono e sua família precisavam de alimentos, roupas e casa para morar. As roupas e os alimentos eram adquiridos no armazém da própria fazenda, que pertencia ao patrão.

As dívidas aumentavam. Ocorreu o devia a passagem, a moradia, a roupa, a comida.... Quando chegava a colheita, o dinheiro que recebi em troca de seu trabalho e não pagava metade de suas contas.

“Os patrões (...). quase não dão dinheiro aos seus colonos, a fim de pendê-los ainda mais a si ou às fazendas". (Thomas Davatz, Memórias de um colono no Brasil - 185, Livraria Martins, São Paulo)

Apesar de ser livre, o colono ficou numa situação bem próxima da escravidão. Quando o som não estava satisfeito com o patrão, não podia mudar de fazenda, a não ser que encontrasse um fazendeiro disposto a pagar suas dívidas. Era o mesmo que procurar e encontrar um novo comprador e proprietária.

As notícias das condições de vida dos colonos no Brasil chegaram a Europa. Pressionados pela opinião repita, muitos governo proibiram emigração para o Brasil.

A expansão do café em direção Oeste Paulista começou a sentia falta de mão-de-obra. Diante de tal situação, o governo brasileiro passou a se responsabilizar diretamente pela imigração.

As despesas da viagem dos integrantes e de sua família eram pagas pelo governo. Aos fazendeiros está destinado o gasto durante o primeiro ano dos colonos nos cafezais. Em troca de seu trabalho,os imigrantes recebiam salário que variava de acordo com o número de pés de café que plantasse.

Para diminuir seus gastos com o dinheiro, os fazendeiro permitiu aos colonos cultivar pequenas lavouras nos espaço livres entre as fileiras de café (as ruas do café).

Os colonos estavam sempre interessados em plantar mais pés de café, pois, além de ganhar um pouco mais de dinheiro com a colheita, tinha na oportunidade de aumentar a lavoura de subsistência entre as fileiras dos cafezais.

Os cafezais cresceram e se expandiram com o regime de colonato. Entre 1887 e 1897, 1300 mil imigrantes pisaram o solo brasileiro. A maioria deles estabeleceu-se em São Paulo.

O e trabalhador em imigrantes não substitui de imediato trabalho escravo. Em 1887 havia 107 mil escravos em São Paulo. Lado a lado, o homem livre e o homem escravo plantavam e colhiam café.

No vale do Paraíba, a lavoura cafeeira continuou apoiada no trabalho escravo.

Nota: no entanto, o avanço do trabalho livra foi marginalizado o negro e o colocando em uma situação de grande dificuldade.

clip_image004

O IMPÉRIO DO CAFÉ

As estradas de ferro recortaram imensas áreas do atual Estado de São Paulo, acompanhando bem de perto a expansão dos cafezais. Muitas vezes, os trilhos de ferro chegavam as áreas ainda virgens, cobertas da mata. A estrada de ferro, então esperava o café chegar.

Assim, a derrubada das matas e o plantio do café passaram a ser estimulados pela garantia do escoamento da produção.

O porto de Santos ultrapassou em importância o porto do Rio de Janeiro. No Brasil republicano, o império do café fixou-se no Planalto Paulista, e sua capital foi a cidade de São Paulo.

Quando uma área entrava em decadência, uma nova surgia para substituir. Em pouco tempo o estado de São Paulo ficou quase inteiramente coberto por fazendas de café. Em 1900, no território paulista viviam 909.417 imigrantes, correspondendo a um crescimento demográfico de 82% em relação a população do ano de 1887.

Os grandes fazendeiros não se limitavam ao cultivo do café. Compravam a produção dos fazendeiros menores, financiavam equipamentos para as novas lavouras e participavam dos investimentos de implantação das estradas de ferro. Com os lucros acumulados, os grandes proprietários tornaram-se também banqueiros e industriais.

Surgiu uma classe social para dirigir a economia e a vida política do país: os “barões do café”.

A HERANÇA

As lavouras do Vale do Paraíba entraram em decadência em 1970. o sistema intensivo e descuidado de plantio provocou um rápido esgotamento da fertilidade natural do solo. A organização tradicional da fazenda, empregando o trabalho escravo e as técnicas rudimentares de produção e o beneficiamento do café resistiu durante trinta anos, mas acabou perdendo sua posição de destaque para São Paulo, para onde foram dirigidos os investimentos dos grandes banqueiros e do próprio governo.

No sul de Minas Gerais, a rápida expansão do cultivo do café tentou resolver a crise gerada pelo fim da época do ouro. Em 1888, o café respondia por 79% das exportações da província mineira, superando a principal atividade que sobrara do período da mineração: a pecuária.

Nesta região, o limite do solo e o relevo acidentado impediam a continuidade da expansão das fazendas. o sul de Minas não tardou a ter o mesmo destino do Vale do Paraíba.

O café avançou, então, em direção ao oeste paulista, onde as terras virgens e férteis do planalto eram um convite à expansão.

O café continuou a sua marcha, deixando atrás de si solos esgotados e pequenos povoados decadentes. As antigas fazendas do Vale do Paraíba e do sul de Minas, pouco a pouco introduziram a criação de gado. Os solos erodidos por um plantio irracional foram transformados em vastos pastos. A herança deixada pelo café aos fazendeiros era a falência ou a introdução da pecuária; para os escravos libertos e os colonos, a herança foi a lavoura de subsistência e a migração para a cidade e para as novas áreas do café.

No estado de São Paulo, o café se expandia como mancha de óleo. As fazendas cresciam com os cafezais e com as estradas de ferro. Começou a surgir um grande número de povoados: são as cidades do café, estabelecidas nas estações ferroviárias implantadas para escoar a produção da lavoura. No final dos trilhos surgiam as cidades chamadas “bocas do sertão”.

Com a alta dos preços no mercado internacional, a fartura chegava aos fazendeiros; quando os preços caíam, era a vez da falência... Muitos fazendeiros ficaram endividados. Para cobrir suas dívidas com os bancos e os financistas, os fazendeiros vendiam as suas propriedades. Banqueiros e financistas tornavam-se, então, grandes proprietários de terra.

Outra solução para os fazendeiros arruinados ara o arrendamento da terra. Para manter suas lavouras, os proprietários alugavam as terras aos colonos, que pagavam ao proprietário alugavam as terras aos colonos, que pagavam ao proprietário entregando parte da sua produção. Alguns colonos tornaram-se pequenos proprietários comprando parcelas de terras das fazendas em decadência.

Nas pequenas propriedades começam a desenvolver-se novos cultivos – o milho, o arroz, o feijão e a mandioca. Eram pequenas manchas que brotavam nas terras abandonas pelo café em São Paulo.

O SERTÃO SE COBRE DE ALGODÃO

O desenvolvimento da indústria têxtil na Inglaterra e a guerra civil entre o Norte e o Sul dos Estados Unidos estimularão o desenvolvimento da produção de algodão em outras regiões do mundo, como o Peru, o Egito, a Índia e o Nordeste brasileiro.

Este fato fez com que o prestígio e o poder, que o Nordeste estava na Zona da mata canavieira, se deslocasse para o sertão pecuário-algodoeiro.

Os grandes latifundiários pecuaristas aliaram-se a empresas estrangeiras, como a Sandra e a Clayton., de quem obtiam dinheiro, passaram a estimula atos pequenos produtores familiares de suas terras a se dedicar ao cultivo do algodão de fibra longa, que se desenvolvia muito bem em áreas de pouca chuva.

Os fazendeiros eram, ao mesmo tempo, os comerciantes que compravam a produção algodoeira nas pequenas vilas e cidades. A maior parte do algodão era exportada porque a pobreza da produção não constituía um mercado para a implantação da indústria têxtil.

Como a produção de algodão não exigia grande investimento, à diferença da produção de carne, muitas famílias se dedicaram a esta atividade. No entanto, por não possuir de ter, eram obrigadas a se submeter aos grandes proprietários como meeiros, parceiros, etc. Assim, os que se beneficiaram, de fato, com o surto algodoeiro foram os grandes proprietários e, as empresas estrangeiras que controlavam a comercialização no mercado externo. Mais uma vez notamos a aliança dos interesses dos grandes proprietários de terras nordestinas com os grandes capitais estrangeiros.

Um grande comerciante do recife., Delmiro Gouveia, percebendo o crescimento da indústria têxtil e vendo que o Nordeste apresentava condições favoráveis, tentou desenvolver um grande projeto no rio São Francisco. Adquiriu máquinas modernas na Europa, comprou terras, estabeleceu vilas operárias com assistência médica para os trabalhadores e implantou um ambicioso projeto industrial em pleno sertão nordestino do rio São Francisco. Mas Delmiro Gouveia não controlava o mercado internacional, e a Inglaterra via nesse projeto uma quebra do seu monopólio no funcionamento de linhas ao Brasil. As pressões foram, muitas para que Delmiro Gouveia vendesse sua fábrica aos ingleses. A resistência acabou com seu assassinato na segunda década de nosso século. Sua família, depois, teve de vender a fábrica a uma empresa inglesa, que quebrou as máquinas e as jogou no rio São Francisco, sem que os demais setores da elite brasileira manifestassem o menor repúdio a esse fato. Mesmo os grandes fazendeiros pecuaristas, que controlavam a comercialização do algodão, se mantiveram em silêncio, pois tinham fortes relações com a Clayton e a Sanbra.

Estes fazendeiros mostraram-se mais interessados em controlar o DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - Para construir barragens. Poços subterrâneos e cacimbas em suas próprias fazendas. Nas épocas em que a seca agravava ainda mais as condições dos sitiantes, parceiros e meeiros, o DNOCS abria frentes de trabalho, para construir estradas e novas barragens. Muitas vezes,, como o dinheiro demorava a chegar as regiões assoladas, os fazendeiros forneciam os alimentos ao DNOCS a preços elevados. A criação do DNOCS e a delimitação do chamado Polígono das Secas, mais que uma preocupação com a miséria do nordestino, revelam o poder dos grandes proprietários na política.

Afinal, a situação de penúria no Nordeste já existia há século, mas foi só a partir do final do séc. XIX que se tornou um problema nacional, com a vinculação direta dos grandes fazendeiros do sertão ao capital estrangeiro. Não esqueçamos de que até aquela época a pecuária extensiva era um mero ciclo subsidiário da carne e do ouro.

PARA ONDE VAI A RIQUEZA DAS MINAS?

A riqueza das Minas Gerais concentrou-se nas mãos dos grandes proprietários de minas e de poucos privilégios que conseguiram contratos com a metrópole para exportar os diamantes no Arraial do Tejuco. Entretendo, os que mais se enriqueceram foram os grandes comerciantes.

A coroa portuguesa começou a cobrar pesados de tributos, para manter as cotas do ouro que alimentavam os gasto da nobreza e o pagamento da dívida do com a Inglaterra. Da riqueza extraída das minas, para parte ia para a metrópole, sendo consumida pela nobreza e no pagamento das importações de produtos manufaturado ingleses.

Os contrabandos do ouro e dos diamantes eram uma das maneiras de longo fugir ao fisco da metrópole.

No final do século XVIII à época de ouro apresento seus sinais de esgotamento. A exploração metropolitana provocou reações dos grandes proprietários de minas. os conflitos, surgiram e sempre eram resolvidos com a ação repressiva e violenta dos funcionários e dos soldados do rei. um desses conflitos chegou às páginas dos nossos livros de história com nome de Inconfidência Mineira.

A decadência da produção aurífera reduziu a capacidade das Minas Gerais importarem os produtos manufaturados. Para suprir suas necessidades de manufaturados, estimulou se o artesanato nas vilas e fazendas.

O governador da capitania real de Minas Gerais não tardou a alertar a metrópole a respeito da "independência que os povos de Minas se haviam posto do gênero da Europa, estabelecendo a maior parte dos particulares, nas suas próprias fazendas, fábricas e teares com que se vestiam e a sua família e escravatura, fazendo panos estopas e diferentes drogas de linho e algodão e ainda de lã"

O Estado português logo reagiu. D. Maria I em 1785, ordenou o fim das manufaturas e dos teares, “excetuando-se tão-somente aqueles teares e manufaturas que tecem fazendas grossas de algodão que serviam para uso e vestuário dos negros”. Afinal, a colônia nasceu para servir aos interesses da metrópole, não é ?

O ouro escasseara, as manufaturas foram proibidas. Restava a colônia viver o final de um outro ciclo - o fim “Eldorado”.

A VIDA NO FINAL DA ÉPOCA DO OURO

A descoberta e a exploração do outro e dos diamantes levaram os homens a lugares distantes, muito além das regiões das Minas Gerais.

No Rio Cuiabá (Mato Grosso) a mineração desenvolveu-se tão rapidamente como se esgotou.

O mesmo aconteceu em Goiás, onde o povoamento estabelecido com a mineração entrou em declínio com o esgotamento dos depósitos auríferos e da mal sucedida exploração de diamantes.

O declínio da mineração fez a população refluir para outros lugares, ativando a pecuária que se estendia ao longo dos rios.

As fazendas de gado bovino, que ocupavam enormes espaços, fazendo do cerrado o seu pasto natural, ganharam desenvolvimento e tornaram-se a marca deste espaço geográfico até os nossos dias.

Nas Minas Gerais a decadência da mineração também se fez sentir. Seu passado como principal centro minerador não esconde as conseqüências da crise do ciclo do ouro.

Para os mineradores pobres, a pequena agricultura de subsistência foi a alternativa de vida. as pequenas roças que apareceram depois do abandono dos arraiais foram mantidas, às vezes combinadas com a criação de porcos.

Para mineradores pobres e esperançosos, o garimpo constituiu a atividade principal desenvolvendo-se na beira dos rios e regatos distantes dos centros urbanos.

As vilas entraram em decadência, vivendo de atividades administrativas e do que sobrara da exploração do ouro. As cidades de Ouro Preto, São João Del Rei, Sabará, entre outras, são lembranças da época do ouro e contam a história do “EIdorado” através de seus casarões, suas ruas e igrejas.

A pecuária, que crescera com o apogeu da mineração enfrentou o final do ciclo do ouro de maneira diferente.

As fazendas do norte de Minas constituíam um prolongamento da pecuária nordestina, que se estendia pelos grandes vales criados pelo rio São Francisco e pelo rio Jequitinhonha.

A criação do gado compreendia uma vasta área e ocupava os pastos naturais formados pela vegetação do cerrado. Quando, muito, a preparação dos pastos constituía na prática da queimada, de árvores de pequeno porte e arbustos. O gado criado solto, não recebia maiores cuidados, além da vigilância, e estava destinado à produção de carne para o mercado das Minas Gerais.

O declínio da mineração não impediu a continuidade da expansão das fazendas. A fraqueza do mercado consumidor permitiu o crescimento dos rebanhos e a conseqüente apropriação das terras pelos fazendeiros.

Longe dos principais centros consumidores de carne, fazendas “fecharam-se em si mesmas”, produzindo para seu próprio sustento e mantendo suas práticas tradicionais de criação de gado.

As fazendas do Sul, localizadas principalmente na bacia do rio Grande, também se originaram na época do ouro. Expandiram-se territorialmente e ganharam expressão diferente das estabelecidas ao norte de Minas Gerais.

Os rios permanentes e volumosos, como o rio Grande e seus efluentes (rio das Mortes, Sapucaí e Verde), formam uma extensa rede de drenagem que, combinada com as chuvas bem distribuídas ao longo do ano, fazem do sul de Minas Gerais uma região das melhores terras, cobrindo um relevo ondulado. Este conjunto de condições naturais são pastos bastante superiores aos encontrados nos cerrados, permitindo que a criação de gado se estabelecesse sem grandes dificuldades.

Mas não apenas pelo clima, pelos rios e pela vegetação que a pecuária do sul de Minas Gerais se tornou diferente e se destacou das demais.

Os novos padrões de criação de gado nas fazendas da região sul das Gerais vincularam-se fundamentalmente ao processo de trabalho aí realizado.

O gado não era criado solto, como se errado. Em de ficava dentro das cercas da fazenda, o que diminuía as necessidades de vigilância e permitia o trabalho da preparação dos pastos e os outros serviços. A alimentação do rebanho não recebia maiores cuidados. A ausência dos depósitos salinos (os "lambedouros") era recompensada pela distribuição regulada de sal nos curais.

O trabalho nos pastos também ganhava atenção. Embora a prática da queimada seja um traço comum de destruição da vegetação primitiva pela pecuária, aqui a queimada era realizada de três em três meses em partos, alternados, para a proporcionar pastagens novas ao gado.

A organização do trabalho na pecuária realizada na bacia do Rio Grande fez aparecer um gado de qualidade superior, tanto para a Corte com o para a produção leiteira.

O leite tornou-se um produto mais a ser comercializado, além da carne. Como a produção do leite, foi possível fabricar um novo produto, o queijo (o famoso queijo-de-minas). A produção dos laticínios tornou-se um dos aspectos importantes da região, como na Zona da Mata Mineira, no caminho que levava ao Rio de Janeiro.

Anteriormente ligada ao abastecimento dos núcleos mineradores, os produtos das fazendas do Sul das Gerais não tardaram a alcançar novos mercado como os do Rio de Janeiro e São Paulo.

Conquistando novos mercados e mantendo uma produção para seu próprio consumo, um desfazendo as da região tornaram-se auto-suficientes, o que, nas palavras do geógrafo Pierre Denis, era "qualquer coisa intermediária entre a família de um reino".

As fazendas de gado chegaram a um século XX apagando a lembrança do "Eldorado" e constituindo a herança regional, marcada pela grande propriedade - os latifúndios pecuaristas. A figura adubos "coronéis" todo poderosos, tão bem retratada na série o bem amado, tem nessas fazendas um dos seus esteios sócio-econômicos.

O NARCOTRÁFICO JÁ É O MAIOR NEGÓCIO IMPERIALISTA DO MUNDO

O NARCOTRÁFICO JÁ É O MAIOR NEGÓCIO IMPERIALISTA DO MUNDO
Jonas Potiguar

O total da produção mundial de bens hoje em todo o mundo alcança a cifra astronômica de 25 trilhões de dólares (por volta de 300 vezes a produção anual do Brasil). Uma parte importante dessa produção é realizada pelos trabalhadores das grandes empresas transnacionais, que empregam 40 milhões de trabalhadores. A produção das 500 maiores empresas do mundo, produzindo em todos os continentes, em 1998, chegou a US$ 11 trilhões de dólares. Seus lucros chegaram 440 bilhões de dólares. Os setores de ponta desta produção é a indústria automobilística (em torno de 1 trilhão de dólares), petrolífera (900 bilhões) e eletro-eletrônicos (750 bilhões) em dados da revista Fortune de 1994.
A indústria do narcotráfico movimenta entre 750 bilhões de dólares a US$ 1 trilhão, portanto se equiparando a estes setores de ponta. Porém, seus lucros são muito superiores aos granjeados no conjunto destes três setores acima mencionados. Isto é permitido pela grande diferença de preço da matéria prima (folha de coca) que é vendida a US$ 2,5 por kg na Bolívia ou na Colômbia, depois é transformada em cocaína passa a valer US$ 3.000 na Colômbia, chegando em São Paulo a US$ 10.000 e alcançando o preço estratosférico de US$ 40.000 dólares no mercado norte-americano e US$100.000 no Japão. O mesmo se pode dizer da heroína e da maconha. É o negócio mais rentável do mundo: alcança lucros de mais de 3.000% e o custo de produção alcança somente 0,5% e o de distribuição 3% do valor do produto. Em 1992, os lucros com tráfico de drogas estavam em torno de 300 bilhões de dólares, quase 6 vezes o lucro alcançado pelas indústrias petrolífera, automobilística e de equipamentos eletro-eletrônicos juntas.

A globalização do narcotráfico

As máfias, a partir do final dos anos 80, se globalizam, buscando uma associação estreita entre as grandes gangues em nível mundial. Os cartéis colombianos, que alimentam todos os outros cartéis desse ramo e faturam por volta de US$200 bilhões anuais, as máfias orientais, que dominavam a produção de papoula (matéria prima da heroína e do ópio, no Triângulo Dourado formado por Birmânia, Tailândia e Laos), as máfias italianas com suas irmãs americanas, a Yakuza japonesa, as máfias chinesas, assim como as máfias africanas e as novas, porém fortes, máfias russas, todas se relacionam.
É um império subterrâneo, com ramificações em mais de trinta países e penetra em todas as esferas de poder estatal, empresariais e sociais. Emprega centenas de milhares de membros organizados e alguns milhões de trabalhadores na produção da matéria prima (folha de coca ou papoula).
O negocio inclui tráfico de drogas, vendas de armas, lavagem de dinheiro do narcotráfico, prostituição adulta e infantil, tráfico de órgãos humanos, suborno, extorsão, controle de área inteiras utilizando métodos violentos de terror com uma estrutura paramilitar.
Segundo dados da revista Newsweek o capital acumulado a cada ano por todas as máfias do mundo é estimado em US$ 3 trilhões, ou seja, mais de 10% de toda produção mundial.
Se prossegue este ritmo vertiginoso de crescimento deste negócio, os cartéis e grupos econômicos que dominem este setor serão a principal fonte de poder econômico do planeta. Por isso, discutir o narcotráfico significa, necessariamente, discutir quem controla regiões inteiras do planeta onde é cultivada a matéria-prima e onde são instalados os laboratórios para produzir drogas.
A "guerra ao narcotráfico" é uma disputa por territórios, entre governos e máfias narcotraficantes. É um negócio como outro qualquer, com a diferença que sua proibição faz oscilar os preços de forma espetacular.

Neoliberalismo e narcotráfico

Ainda que exista há décadas, só agora, nos anos 90, com o neoliberalismo, o narcotráfico se desenvolveu e adquiriu peso e importância mundiais. É uma das atividades econômicas mais dinâmicas e rentáveis. O neoliberalismo foi a esteira que permitiu o verdadeiro salto de um negócio marginal para o maior de todos os negócios. A queda dos preços das matérias primas nos países pobres criou as condições para que partes importantes do campesinato da Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, Brasil, etc. se dedicassem a produção da matéria prima para a fabricação da cocaína, da heroína e da maconha. Ao mesmo tempo, abriu espaço para que setores burgueses desses países se reorientassem para este negócio, em franca ascensão, enquanto os negócios "legais" encontram-se em recessão.
A abertura indiscriminada dos mercados, a desregulamentação financeira internacional, abriu as comportas do sistema financeiro mundial para uma enxurrada de narco-dólares que são lavados em paraísos financeiros (Caribe) ou no Uruguai, Argentina, Brasil, Suíça, EUA, Israel, etc. Grandes bancos aceitam de bom grado o que se estima em US$ 1 trilhão de narco-dólares que são lavados anualmente no sistema financeiro mundial. Este dinheiro cumpre um papel importante na especulação mundial, no crescimento artificial das bolsas de valores, assim como é recebido com "fogos de artifício" pelos governos neoliberais capachos.

Lucros escalonados

Como qualquer negócio imperialista, há diversas fases desta indústria. A parte do leão fica com os países imperialistas que recolhem a maior parte dos lucros deste negócio, enquanto que para os países "produtores de matérias primas", do "terceiro mundo", ficam as menores fatias do bolo e mesmo assim nas mãos dos grandes traficantes.
O "negócio" começa nos países semi-coloniais que entram com a produção (Colômbia, Peru e Bolívia no caso da cocaína ou Afeganistão no caso da heroína, por exemplo) feita por milhões de camponeses que vendem a matéria prima por poucos dólares o quilo. Daí a folha de coca passa para as mãos dos narcotraficantes "tupiniquins" que processam a matéria prima, produzindo a cocaína ou a heroína, vendendo-as já por alguns milhares de dólares. Estas gangues agarram a primeira parte dos grandes lucros do negócio, seu enriquecimento é exorbitante e está demonstrada sua relação com os partidos políticos tradicionais, com as cúpulas dominantes destes países, estendendo seu poder de corrupção a todas as atividades econômicas, políticas, sociais.
A terceira etapa do processo está nas mãos dos distribuidores nos grandes centros de consumo (principalmente EUA, que consome 240 toneladas de cocaína por ano, e Europa), em geral controlado pelas máfias dos países imperialistas (nunca denunciadas, nem perseguidas) e ficam com a maior parte dos lucros do negócio, dividido depois com os grandes bancos internacionais que fazem a lavagem dos narco-dólares, transformando-o em capital financeiro, principalmente especulativo, que vai voar pelo mundo afora em prol da "globalização". Estima-se que os EUA reciclam US$ 500 bilhões por ano do narcotráfico.
O grosso dos lucros em todos os níveis, são embolsados pelos setores da burguesia (traficante e não traficante) dos EUA. A economia norte-americana vende parte importante dos compostos químicos, recebe US$ 240 bilhões anuais por isso, uma parte dos quais se destina a repor capital no mesmo ramo da produção de drogas e outra parte é investida em outros setores da economia ou vai para os bancos. Isto transforma os EUA no país onde a narco-economia tem uma importância vital, ocupa aproximadamente 5% do PIB, se convertendo no setor mais importante da economia norte-americana.

As veias do negócio na América Latina

A América Latina é o principal fornecedor de cocaína e maconha do mundo. Os cartéis latino-americanos enviam ao mundo 270 toneladas de cocaína por ano e já detêm 15% da produção de heroína, produto tradicionalmente elaborado no sudeste asiático. Hoje, o Afeganistão controla a maior parte da produção mundial. A coca ocupa uma área de 200 mil hectares espalhados em milhares de propriedades na Colômbia, Peru e Bolívia e emprega 5 milhões de pessoas. Calcula-se que na Bolívia entram por ano US$ 600 milhões relativos ao comércio da coca, no Perú US$ 650 milhões e na Colômbia US$ 1,7 bilhão, ainda que seja impossível conseguir cifras exatas.
Na Colômbia, 70% das terras cultiváveis estão agora nas mãos dos narcotraficantes. Segundo dados da DEA (Agência de Repressão às Drogas do governo norte-americano) para 1995, as entradas, produto das exportações de cocaína da Colômbia, alcançava os 10% do PIB, três vezes mais que as vendas da Ecopetrol, de longe a maior empresa do país. O narcotráfico e seus capitais penetraram em todas as atividades econômicas básicas e fundamentais do país, como bancos, agricultura, construção civil e indústria e faturam uns US$ 200 bilhões, segundo dados do FMI.
Na Bolívia, igualmente, o valor das exportações relacionadas com a cocaína supera todos os demais ramos econômicos. No Peru, a produção de coca chegou a alcançar 8% do PIB do país, empregando 7% da população economicamente ativa. Houve uma queda importante nestes índices, devido à queda dos preços da coca, saturação do mercado mundial, forte superprodução. Depois de ser o primeiro produtor mundial de folhas de coca, o Peru - tudo indica que - vai tornar-se um forte exportador de heroína, pois já estão se produzindo papoulas em terras muito propícias para este cultivo.
No Paraguai, o tráfico de drogas, carros e armas é o setor mais dinâmico da economia e já penetrou em todas as instituições estatais, policiais, políticas, etc. O México é um grande produtor de maconha, cujo monopólio é assegurado pelo próprio exército do país, que foi direcionado para reprimir o narcotráfico e terminou sendo comprado. Argentina e Uruguai, principalmente este último, têm se convertido em importantes bases para "lavar" narco-dólares.
Em todos estes países pode-se encontrar altas esferas do poder metidos até o pescoço no narcotráfico, desde altos oficiais, incluindo as agências nacionais "antidroga" na Colômbia, Paraguai, Peru, México, Bolívia. Até políticos de altas esferas, como Oviedo no Paraguai, Menem, o irmão do ex-presidente Salinas, no México, foram flagrados em escândalos. No Brasil, agora está vindo à luz informações que comprometem políticos burgueses, setores inteiros das polícias, juizes, empresários e banqueiros, corrompidos pelos cartéis do narcotráfico.

O imperialismo norte-americano quer controlar todo o negócio e...

A "guerra contra o narcotráfico" promovida pelos EUA tem um aspecto econômico, político e militar. O aspecto econômico busca impedir que surja uma forte burguesia nos países semi-coloniais apoiada neste grande negócio, já que isto permitiria o controle de um negócio mundial que alcança cifras em torno de trilhões de dólares. Daí sua política de repressão seletiva, que ataca os pequenos produtores, com a destruição das plantações de coca na Bolívia, Peru e Colômbia e com os consumidores, sem atacar os grandes atravessadores que são os que detém o maiores no processo, principalmente as máfias americanas e os grandes bancos que recolhem o grosso dos lucros do narcotráfico.
É uma repressão seletiva porque busca destruir os grandes cartéis somente quando estes assumem proporções gigantescas, como os cartéis de Cali e Medellín que estavam constituindo grandes oligopólios mundiais por fora do controle americano. Por isso, foram desbaratados e em seu lugar surgiram dezenas de cartéis que continuam o trabalho inclusive produzindo e distribuindo mais cocaína que os dois cartéis juntos. A burguesia destes países produtores (Colômbia, Peru e Bolívia) se dividem alinhado-se ou não com o imperialismo americano pelo controle e pela apropriação da maior quantidade de lucro que gera para incluir no circuito "legal" do capitalismo.
Desta forma, o imperialismo, acossado pela crise econômica, busca controlar todos os ramos econômicos dos países semi-coloniais (vide privatizações e abertura dos mercados) e a "guerra contra o narcotráfico" é somente a cobertura para uma luta sem quartel para controlar e garantir que os volumosos lucros desta grande indústria seja açambarcado por suas empresas, bancos, e por setores aliados nos países atrasados e não potencialize o surgimento de uma forte burguesia lúmpen que rivalize com o imperialismo ou mesmo possa enfrentá-los ainda que circunstancialmente.
Ademais, desbaratando os grandes cartéis, utiliza o dito "dividir para reinar", já que pode infiltrar agentes da DEA e da CIA, informantes e pilantras da pior espécie dentro das organizações mantendo, perfeitamente, um controle sobre todo o negócio e "explodindo" os setores que não estão totalmente "sob controle". Para isso contam com a ajuda da subserviente burguesia latino-americana mais realista que o rei e totalmente subordinada aos interesses do Império do Norte.
É do conhecimento de todos os escândalos que relacionam os americanos em tráfico de drogas. Por exemplo, a esposa do coronel Hiett, o chefe dos militares destacados para seguir na Colômbia o combate às drogas foi detida por traficar cocaína usando os canais diplomáticos. O comércio é tão gigantesco que uma rede dentro da American Airlines, usava as facilidades de acesso a aeroportos para oferecer cocaína nas maiores capitais do Tio Sam.
Porém, estes dois exemplos são só a expressão de uma vasta rede clandestina montada pela CIA, DEA e outros órgãos de inteligência americana. Em janeiro de 1980 apareceu morto um
banqueiro australiano, F. Nugan, co-proprietário de uma instituição (NUGAN HAND INC) com sucursais nos 5 continentes. As atividades da Nugan: negócios com pessoas com conexões provadas com drogas; intensa atividade bancária na Florida ligada a narcóticos, tráfico de armas. Existem provas da conexão desta "empresa" com o FBI e a CIA. O quadro de acionistas e pessoas que tiveram relação com o banco vão desde Abe Saffron, personagem fundamental do crime organizado na Austrália, Terry Clarck, chefe do sindicato exportador de opiáceos chamado Mr. Ásia. Capos da Cosa Nostra americana que se conectavam com o Banco Nugan via Sir Peter Abeles, igualmente sir Peter Strasser, equivalente de Abeles ao nível de petróleos, Rupert Murdoch, Theodore Shackley, ex-diretor de operações clandestinas da CIA, Richard Secord, chefe de vendas de equipamento militar no Pentágono de 1978 a 1984, demitido depois de fraudar o exército americano em 8 milhões de dólares. Através de Oliver North - em nome do Conselho de Segurança Nacional, Secord foi encarregado de organizar a conexão Irã-Contras. Os administradores e conselheiros do banco eram na sua maioria militares de alta patente, ligados ao Conselho de Segurança Nacional dos EUA, chefes na guerra do Vietnã, ex-diretores da CIA.
Esta grande rede controlava o tráfico de heroína e venda de armas em acordos com os grandes cartéis, "sócios na luta contra o comunismo". Quando este banco vai à falência, surge imediatamente um substituto, o BCCI, que passa a ser parte desta rede clandestina e foi via ele que processou a negociata do escândalo Irã-Contras onde o governo financiou os contras nicaraguenses com a venda ilegal de armas ao Irã e com o tráfico de entorpecentes. O BCCI tinha uma rede secreta composta por 1.500 funcionários dedicados ao tráfico de armas, drogas e divisas, prostituição, seqüestros, assassinatos, etc.
Na verdade, o pretenso combate ao tráfico é a fachada para impor um controle econômico e político na região, já que sequer consegue efetivamente o que se propõe. O tráfico de drogas do Panamá aumentou após a intervenção imperialista contra Noriega. O governo do ex-presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari, grande amigo dos EUA, tinha uma de suas bases de sustentação no tráfico e seu próprio irmão Raúl era uma das figuras centrais do contrabando e do tráfico.
Na Colômbia, os narcotraficantes mais poderosos apóiam os paramilitares e tiveram participação direta nas execuções de líderes sindicais, ativistas e jornalistas. Esses crimes permanecem impunes, com a conivência das mesmas FFAA que os EUA orientam e enchem de dólares.
O que preocupa o imperialismo é que os países exportadores de drogas se beneficiem economicamente. Por isso dirige seus ataques à periferia: as plantações, os centros de produção e principalmente a "lavagem de dólares" na América Latina. Porém, não combate estas atividades com a mesma intensidade e força em seu próprio território.
O imperialismo sabe, pela sua própria história, que o surgimento destes ramos "ilegais" é uma forma de acumulação primitiva do capital que pode permitir o surgimento de grandes capitais financeiros, como foi no seu tempo o tráfico de escravos, a colonização da América, os piratas a serviço da rainha da Inglaterra ou mesmo, mais recentemente, na década de vinte nos EUA, quando a proibição do álcool levou à formação de impérios clandestinos que depois transformaram-se em grandes negócios.

...recolonizar a América Latina

O aspecto político e militar da luta "contra o narcotráfico" é que a partir do final dos anos 80 o imperialismo norte americano utiliza o "perigo do narcotráfico" para assim justificar sua crescente intervenção nas forças de segurança dos países latino-americanos, como na Colômbia, Bolívia, Peru, Equador, Panamá, Brasil, Paraguai, México, etc.
Por trás dessa máscara se insinua a penetração de militares norte-americanos em toda América Latina, cuja ponta de lança para a intervenção começa na Colômbia, porém que está desenvolvendo seus tentáculos em todos os países da área. O Narcotráfico é utilizado para justificar intervenções abertas e descaradas, retrocedendo a formas coloniais que vai desde invasões, como foi o caso do Panamá, até treinamento de FFAA com "assessores" militares como na Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai, até ceder partes partes do território para que sejam patrulhados por ianques. O imperialismo norte-americano relocaliza dezenas de milhares de militares que estavam estacionados no Panamá, construindo bases e acordos militares com a maioria dos países da área, preparando-se para embates na luta contra a liberação nacional e os grandes enfrentamentos que estão por dar-se na área, como prenunciam Colômbia, Equador e outros.

Gostou? Compartilhe o Blog!!!

Facebook Twitter Addthis