terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CONCEITOS E CATEGORIAS GEOGRÁFICAS - SOCIEDADE, A NATUREZA E O PENSAMENTO GEOGRÁFICO

A geografia estuda o espaço, constituído pelas formas naturais e pelas que foram criadas pelo trabalho humano, em conjunto com as relações que ocorrem na vida em sociedade. O espaço geográfico, ou simplesmente espaço, é analisado levando em conta os lugares, as regiões, os territórios e as paisagens. As relações sociais, econômicas e culturais explicam a sua dinâmica, o seu constante processo de transformação.
Ao estudar o espaço, porém, cada um possui o seu enfoque. Há geógrafos, por exemplo, que consideram a geografia uma ciência essencialmente social. Para outros, ela seria uma ciência da natureza. Há outros, ainda, que vêem nas relações da sociedade com a natureza o seu objeto de análise.
Neste material, estudaremos o Brasil e o mundo tendo como base as relações da sociedade com a natureza, tratando a geografia física e a humana de forma interligada.

Leia o texto a seguir, Organização espacial. Nele, o autor apresenta a postura de análise que permeia este livro.

PARA PENSAR - GEOGRAFICAMENTE

Observe as fotos abaixo, reflita sobre outros exemplos e responda (por escrito):

1. Pense no papel que os serviços públicos têm no dia-a-dia dos cidadãos: o que muda na vida das pessoas quando as condições de moradia, transporte, educação, saúde e outros serviços públicos melhoram?

2. Quais são as nossas responsabilidades, quando utilizamos um serviço público ou privado?

O cotidiano das pessoas é influenciado, ou mesmo determinado, pela forma como o espaço está organizado. Observe as fotos e responda às questões a seguir.


Barco transportando turistas, no pantanal mato-grossense , em 2000.

Terminal de ônibus, em São Paulo, em 1999.


Rua de Fortaleza (Ceará), em 2001.

Organização espacial
Roberto Lobato Corrêa

Como a geografia objetiva o estudo da sociedade? Ou seja, qual é a objetivação da geografia que, sem deixar de ser uma ciência social, distingue-se da história, antropologia, economia e sociologia, todas elas também ciências sociais?
O longo processo de organização e reorganização da sociedade deu-se concomitantemente à transformação da natureza primitiva em campos, cidades, estradas de ferro, minas, voçorocas, parques nacionais, shopping centers etc. Estas obras do homem são as suas marcas apresentando um determinado padrão de localização que é próprio a cada sociedade. Organizadas espacialmente, constituem o espaço do homem, a organização espacial da sociedade ou, simplesmente, o espaço geográfico. A objetivação do estudo da sociedade pela geografia faz-se através de sua organização espacial, enquanto as outras ciências sociais corretas estudam-na através de outras objetivações.
Resumindo, o objeto da geografia é, portanto, a sociedade, e a geografia viabiliza o seu estudo pela sua organização espacial. Em outras palavras, a geografia representa um modo particular de se estudar a sociedade.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1988. p. 52-3. (Princípios, 53).

Outro elemento de análise muito utilizado pela geografia para interpretar a sociedade e suas relações com a natureza é o território. Podemos falar em território nacional, território indígena, território de uma gangue de traficantes de drogas, território de ação de um grupo de ajuda humanitária, etc.
Em cada um deles, há relações de poder, de posse ou de domínio, e vigoram determinadas regras ou leis. Essas podem ser institucionais - criadas pelo Estado - ou reconhecidas informalmente pela sociedade - não estão escritas, mas todos as conhecem.
O território nacional é controlado por um Estado. Dentro dos limites do território de qualquer país, administrado pelo Estado, vigoram leis próprias e várias outras normas, que deixam de ter validade fora dos seus limites físicos, delimitados pelas fronteiras político-administrativas.
Ampliando a escala da nossa abordagem, constatamos que há territórios sob a influência de instituições, organismos e empresas que extrapolam os limites dos territórios nacionais. A Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização Mundial de Comércio (OMC), o Mercosul, a União Européia, por exemplo, acabam interferindo, direta e indiretamente, nas decisões dos governos nacionais, ou seja, têm ação direta e indireta sobre a gestão dos territórios nacionais.
Estado-nação - cidadania e globalização, na atual fase do processo de globalização, a gestão dos territórios nacionais sofre influências externas cada vez mais acentuadas. Leia, no texto a seguir, que além de sua dimensão espacial a noção de território deve ser associada a escalas de tempo histórico.

O território
Marcelo José Lopes de Souza

A palavra território normalmente evoca o "território nacional" e faz pensar no Estado - gestor por excelência do território nacional-, em grandes espaços, em sentimentos patrióticos (ou mesmo chauvinistas), em governo, em dominação, em "defesa do território pátrio", em ·guerras... A bem da verdade, o território pode ser estendido também à escala nacional e em associação com o Estado como grande gestor (se bem que, na era da globalização, um gestor cada vez menos privilegiado). No entanto, ele não precisa e nem deve ser reduzido a essa escala ou à associação com a figura do Estado. Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada (p. ex., uma rua) à internacional (p. ex., a área formada pelo conjunto dos territórios dos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN); territórios são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter existência periódica, cíclica. Não obstante essa riqueza de situações, não apenas o senso comum, mas também a maior parte da literatura científica, tradicionalmente restringiu o conceito de território à sua forma mais grandiloqüente e carregada de carga ideológica: o "território nacional".
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território. In: CASTRO, Iná Elias; GOMES, Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 81.


REFLEXÃO EM EQUIPE
PARA EXERCITAR
Responda, por escrito, à questão a seguir.

Embora existam uma Constituição Federal e outras leis e regras que vigoram em todo o território brasileiro, ele está inteira e absolutamente administrado.
Pelo Estado, pelas autoridades constituídas? (Pense nas fronteiras amazônicas e nos territórios das gangues ou dos traficantes de drogas.)
Cite exemplos e compare a sua resposta com as de seus colegas de equipe.


O LUGAR

Para a geografia, o lugar é a porção do espaço onde se desenrolam as relações cotidianas. Leia, no texto a seguir, uma de suas definições.

Definir o lugar?
Ana Fani Alessandri Carlos

Como o homem percebe o mundo? É através de se corpo, de seus sentidos que ele constrói e se apropria do espaço e do mundo. O lugar é a porção do espaço apropriável para a vida apropriada através do corpo - dos sentidos - dos passos e seus moradores, é o bairro, é a praça, é a rua, e nesse sentido poderíamos afirmar que não seria jamais a metrópole ou mesmo a cidade latu sensu a menos que seja a pequena vila ou cidade - vivida/ conhecida/ reconhecida em todos os cantos. Motoristas de ônibus, bilheteiros, são conhecidos - reconhecidos como parte da comunidade, cumprimentados como tal, não simples prestadores de serviço. As casas comerciais são mais do que pontos de troca de mercadorias, são também pontos de encontro. É evidente que é possível encontrar isso na metrópole, no nível do bairro, que é o plano do vivido, mas definitivamente não é o que caracteriza a metrópole.
(...)
Por outro lado a metrópole não é "lugar", ela só pode ser vivida parcialmente, o que nos remeteria à discussão do bairro como o espaço imediato da vida das relações cotidianas mais finas - as relações de vizinhança, o ir às compras, o caminhar, o encontro dos conhecidos, o jogo de bola, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidade, habitante identidade, habitante - lugar. São os lugares que o homem habita dentro da cidade que dizem respeito a seu cotidiano e a seu modo de vida, onde se locomove, trabalha, passeia, flana, isto é, pelas formas através das quais o homem se apropria e que vão ganhando o significado dado pelo uso. Trata-se de um espaço palpável - a extensão exterior, o que é exterior a nós, no meio do qual nos deslocamos. Nada também de espaços infinitos. São a rua, a praça, o bairro - espaços do vivido, apropriados através do corpo - espaços públicos, divididos entre zonas de veículos e calçada de pedestres, dizem respeito ao passo e a um ritmo que é humano e que pode fugir ao do tempo da técnica (ou que pode revelá-Ia em sua amplitude). É também o espaço da casa e dos circuitos de compras, dos passeios, etc.

Trechos de CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo; Hucitec, 1996. p. 20-2. (Geografia; teoria e realidade, 38).

Embora os lugares sejam percebidos na esfera do cotidiano, as relações que se estabelecem em seu interior são cada vez mais influenciadas por ocorrências dos mais variados pontos do planeta. Assim, partindo do lugar, podemos ampliar a escala para analisar a organização do espaço da cidade, da região, do estado, do território nacional, e mesmo mundial, selecionando as ações humanas que quisermos estudar.
Observe os exemplos a seguir.

Acima, Petrolina (Pernambuco), em 2001. Mais abaixo, turistas em Paris (França), em 1999.

Às vezes, só observamos a paisagem e o espaço quando viajamos. Nesses momentos também percebemos o quanto estamos ligados ao nosso país, ao nosso município e, principalmente, ao nosso lugar. Leia no texto a seguir, escrito por volta de 1962, como uma inglesa (Ianthe) reagiu diante do que observou e vivenciou em parte de sua viagem à Itália.

Duas inglesas e a Itália
Bárbara Pym

Ianthe meditou sobre a paisagem e as outras pessoas no trem, que eram tão comuns – embora de uma maneira italiana – quanto o seria um grupo semelhante de pessoas num trem inglês. As únicas diferenças eram que o padre parecia meio sujo, e o jovem casal se fitava de um jeito que não se via na Inglaterra, de repente, Ianthe que questionou: será que um pastor da Igreja Anglicana nunca parecia sujo? Será que os jovens casais ingleses nunca se fitavam de modo tão devorador: Afinal de contas, John a beijara na estação, pensou, baixando os olhos ao sentir o olhar de Sophia.
- A gente sabe que está chegando ao Sul – falou esta, com entusiasmo. – O sol está brilhando e as casas parecem diferentes.
É... os telhados planos são meio feios, não acha?
- Mas olhe só para as laranjas - disse Sophia, com reprovação.
- Quer dizer que estamos quase em Nápoles?
- Sim... temos que mudar de trem ali. Aliás, aqui, em Mergelina. O ar não é maravilhoso e diferente? - falou Sophia, enquanto saltavam do trem.
- Tem um cheiro meio estranho - comentou Ianthe.
- É... é a baía... é um tipo de emanação. Às vezes a gente também sente em Londres, em horas inesperadas.
Ianthe ficou contente por Sophia estar com ela e saber o que fazer e onde tomar o trem para Salerno. Foi só quando estavam no ônibus que serpenteava pela estrada costeira na direção de Amalfi que começou a ficar animada de novo. Uma viagem, especialmente no estrangeiro, é sempre cansativa, com o medo ou a emoção adicionais, de não saber exatamente o que se vai encontrar no final. Ianthe pensou com compaixão nas governantas inglesas que iam trabalhar com famílias estranhas. Então o ônibus entrou na estrada para Ravelo e ela esqueceu a sua estranheza na emoção mais imediata do caminho sinuoso e da vista revelada a cada curva.
(...)
Ianthe ficou aliviada quando a levaram para o se e a deixaram sozinha para desfazer as malas. Saiu para a varandinha um tanto nervosa, achando que não parecia muito segura, e olhou para baixo para acres de bosques de limoeiros. As árvores eram todas emaranhadas, deixando os frutos quase escondidos, mas Ianthe pôde sentir que havia centenas, talvez milhares de limões pendendo entre as folhas. Todos aqueles limões, pensou a enfermeira Dew diria que eles quase lhe davam arrepios. Para além dos bosques de limoeiros, pôde enxergar o mar, o que a reconfortou, pois além do mar ficavam a Inglaterra, a sua, a biblioteca e John.
Trechos de PYM, Bárbara. Uma relação imprópria. Rio de Janeiro: Record, 1982. p. 142-3

PARA PENSAR GEOGRAFICAMENTE

1. Destaque duas passagens do texto em que a autora analisa a - a paisagem e o lugar visitado (leia o item seguinte - A paisagem).

2. Ao conhecermos novas paisagens e estabelecermos contato com novos lugares mesmo que por meio de televisão costumamos compará-los com o nosso lugar: qual é mais bonito mais organizada mais agradável etc. Isso já aconteceu com você? Em que situação? Descreva por escrito.

A PAISAGEM

Quando observamos uma paisagem, seja ela de um local cujas condições naturais estão preservadas, ou do centro de uma grande cidade, podemos assumir uma postura meramente contemplativa, considerá-la feia ou bonita, tranqüila ou agitada. A forma como as paisagens se apresentam aos nossos olhos nos permite interpretar heranças do passado, tentar entender o presente e propor ações com vistas a melhorar o futuro.
Ao compararmos paisagens de lugares diferentes - rios e praias limpos ou poluídos, matas preservadas e áreas desmatadas, impactos ambientais provocados por diferentes tipos de indústrias e práticas agrícolas, etc., podemos avaliar e criticar o resultado da ação humana sobre o espaço, pois ela está impressa na paisagem.


Leia, a seguir, trechos de duas obras do geógrafo Milton Santos em que expõe um dos conceitos de paisagem para a geografia. O segundo aborda a distinção entre paisagem e espaço. Perceba que as pessoas, por serem diferentes, possuírem formações diversas, enxergam as coisas que as cercam cada qual à sua maneira.
Paisagem, o que é?
Milton Santos

Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.
(...)
A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos sentidos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do mesmo fato. Por exemplo, coisas que um arquiteto, um artista vêem, outros não podem ver ou o fazem de maneira distinta. Isso é válido, também, para profissionais com diferente formação e para o homem comum.
A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão. Se a realidade é apenas uma, cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que é só aparência.
(...)
A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção aquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. (...).

Trechos de SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988. p 61-6. (Geografia: Teoria e realidade).


Uma necessidade epistemológica: a distinção entre paisagem e espaço
Milton Santos

Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é conjunto das formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.
(... )
Durante a Guerra Fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O presidente Kennedy; afinal renunciou a levar a cabo esse projeto.
Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem para mostrar a diferença e entre -esses dois conceitos.

A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - UMA EXPLICAÇÃO PARA O FIM DA URSS


No pós-guerra, embalados pelo Plano Marshall, os aliados aos Estados Unidos cresceram aceleradamente. Movidos por acirradas concorrências, as empresas dos Estados Unidos , da Europa Ocidental e do Japão fizeram um gigantesco esforço bisando à introdução de novas tecnologias, principalmente daquelas aplicadas ao processo produtivo, tais como a informática, a robótica, técnicas de miniaturização, etc., tudo isso possibilitou uma brutal elevação, tornando-as mais competitivas.
Evidentemente, para alcançar esse novo patamar houve um esforço conjunto entre as empresas e os Estados e os Estados que as abrigam no sentido de se investir maciçamente em pesquisa e desenvolvimento e na elevação dos níveis de qualificação da mão-de-obra. A essas novas tecnologias e às mudanças radicais que elas estão provocando, não só do ponto de vista socioeconômico, mas também cultural, é consenso definir como uma Terceira revolução Industrial. É o capitalismo adentrando no seu atual período técnico cientifico. Os paises lideres desse processo, ora em curso, são os Estados Unidos e o Japão, seguidos de perto pela Alemanha e a França e, em menor escala, por outros países desenvolvidos, como o Reino Unido, a Itália, o Canadá, a Suécia, Suíça, etc.

A DECADÊNCIA DA SUPERPOTÊNCIA

E a União Soviética? Como é que ficou nesse contexto de grandes transformações tecnológicas? Foi em meados da década de 70 que a União Soviética começou a perder o “bonde da história”. Ficava evidente, mesmo para os próprios soviéticos, que o império vermelho era uma superpotência apenas pelo seu poderio militar, pelo seu arsenal nuclear e pela sua capacidade de destruição em massa. Devido ao seu baixo dinamismo econômico, sua produtividade industrial não acompanhava nem de longe os avanços dos países capitalistas desenvolvidos mais competitivo. Seu parque industrial, sucateado, era incapaz de produzir bens de consumo em quantidade e qualidade suficientes para abastecer a própria população. As filas intermináveis eram parte do cotidiano dos soviéticos e o descontentamento se generalizava.
As filas nas lojas do Estado atormentavam a população. Era o retrato mais fiel da falência da economia soviética.

Mas o golpe de misericórdia na combalida economia soviética foi dado pelos Estados Unidos, no inicio da década de 80. a campanha dos republicanos para a eleição presidencial norte-americana, em 1980, foi baseada na recuperação da auto-estima e do prestigio internacional do país, abalado pela gestão democrata de Jimmy Carter, tido por muitos como um governo fraco. Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos com esse discurso e, para viabilizá-lo, prometeu triplicar o orçamento para a defesa. Como a União Soviética, não tinha mais condições de continuar com a Corrida Armamentista, os acordos de paz entre as duas superpotências se tornam necessários.
Nas eleições parlamentares, ocorridas em dezembro de 1995, o grande vencedor foi o partido Comunista. Isso refletiu o descontentamento da população com as reformas econômicas, ou seja, seu sofrimento com a prolongada crise. Assim, os partidos reformistas reduziram sua representação no Parlamento, conforme se pode constatar. O discurso xenófobo e radical de Jirinovsky também não empolgou tanto como em 1992 e seu partido também perdeu cadeiras no Parlamento.

O AGRAVAMENTO DA CRISE

Rússia, assim, como os demais países que integravam a extinta União Soviética, passam por um momento bastante delicado. Desmontaram a economia planificada, que bem ou mal funcionava e à qual estavam adaptados, mas não conseguiram ainda construir nada para substituí-la. Estão vivendo um momento de transição rumo ao capitalismo, mas até agora só conseguiram “conquistar” os aspectos negativos da economia de mercado: inflação, recessão, falências de empresas, desemprego em massa, empobrecimento da população, etc. A crise é muito grave, conforme se pode constatar pela analise dos dados a seguir.
A economia russa encolheu mais nesse período do que a norte-americana durante a crise de 29. estima-se que haja mais de 10 milhões de desempregados atualmente no país. O empobrecimento é generalizado e os russos começavam a conviver com um fenômeno com o qual não estavam acostumados: a miséria.
As antigas repúblicas da União Soviética estão descobrindo a duras penas que, para a economia de mercado funcionar direito, exigem-se ajustes estabilidades macroeconômicas e também um aspecto que vão demorar a incorporar: uma cultura capitalista, um modo de pensar capitalista que evidentemente deixou de existir depois de setenta anos de economia planificada. O capital estrangeiro, que era esperança de salvação econômica, não está entrando nesses países conforme era esperado, devido à instabilidade econômica e política. Particularmente na Rússia, além da grave crise econômica, como foi visto, há também uma crise política, provocada pelo separatismo. A Rússia continua sendo um país multinacional e o separatismo é sempre um fator de instabilidade. Isso ficou claro quando o governo de Bons Yeltsin reprimiu violentamente o movimento separatista da Chechênia (localiza-se no mapa da CEI).
Com o capital estrangeiro “assustado” e com mercados mais interessantes para investir no mundo, cada vez mais a economia russa é controlada por grupos mafiosos, que nada deixam a dever a AL Capone, no Chicago dos anos 30. O trecho do artigo de Antônio Gonçalves Filho mostra bem isso.

(...) A má fia dos tártaros, a má fia dos curdos, a má fia dos chechenos, todas elas têm o país nas mãos. Velhinhas aposentadas aparecem mortas por criminosos organizados que estão construindo fortunas sobre o sangue de seus compatriotas. Como agora é possível comprar imóveis por preços irrisórios (para os mafiosos), eles emprestam” o dinheiro a esses aposentados e, após a compra, os infelizes não recebem a casa própria, mas duas balas na cabeça (...).

Nessa terra desolada, a revolução não terminou com um bom, mas com a terrível constatação de que os russos jamais conquistaram sua cidadania, que sempre foram súditos de regimes de força — primeiro, os czares, depois o Estado soviético, e agora as máfias.
(O Estado de São Paulo, 14 de maio de 1995)

Mas quais foram as principais mudanças que ocorreram com o surgimento da CEI? Elas foram maiores no plano político. Houve uma descentralização de poder e, gradativamente, consolida-se a democracia em novos países independentes. O cargo mais importante da hierarquia de poder agora é o de presidente da República, que governa com o parlamento. Presidente e parlamentares são eleitos diretamente por voto popular em cada um dos novos países.
O grande vencedor nessa história toda foi o ultra-reformista Bons Yeltsin, que foi eleito presidente da Rússia, de longe a mais importante das ex-repúblicas soviéticas e principal herdeira da antiga superpotência, passando inclusive a ocupar o assento que pertencia à União Soviética como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Bons Yeltsin foi apoiado pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais porque, apesar de suas manifestações autoritárias e xenófobas, era o político que mais acenava com mudanças rápidas e profundas em direção a economia de mercado. Yeltsin era também o que mais afinava com a ideologia das potências ocidentais. Já que Gorbachev havia saído de cena, não restava outra alternativa senão apostar nele. É importante salientar, no entanto, que a própria saída de cena de Gorbachev foi um golpe branco impetrado por Yeltsin. Ao declarar a independência da Rússia, eliminou qualquer possibilidade de instauração de uma nova estrutura federativa, que, embora, fizesse algumas concessões aos separatistas, seria talvez a única chance de manter coesão territorial do país — o objetivo fundamental de Gorbachev.
Com o passar do tempo, Yeltsin daria demonstrações de autoritarismo. Em setembro, de 1993, ele fechou o Parlamento russo. Esse ato, claramente golpista, foi uma reação aos empecilhos colocados ao projeto ultra-reformista não só pelo Parlamento, de maioria conservadora comunista, mas também pela própria Constituição. Essas estruturas de poder eram uma herança da União Soviética, pois a Constituição datava de 1978 e o Parlamento tinha sido eleito em 1989. Assim, ao tomar essa altitude, Yeltsin buscou retirar os entraves que dificultavam suas reformas, tendo sido apoiado pelos Estados Unidos e países europeus. No entanto, agiu de maneira claramente ditatorial, mantendo uma tradição da Rússia, onde nunca houve de fato democracia.
Quando fechou o Parlamento, Yeltsin prometeu convocar eleições para dezembro de 1993. Cumpriu sua promessa, mas não foi muito bem nas urnas, embora tenha conseguido aprovar em plebiscito à nova Constituição, que lhe deu mais poderes. Seu partido, Opção da Rússia teve 13 % dos votos, mas o grande vencedor com 24 % dos votos, foi o Partido Liberal Democrático, oposição de extrema direita, liderado por Vladimir Jirinovsky. O Partido Comunista ficou com 10 % dos votos, seguido do Partido Agrário, com 9 %.
Foi com essa espinhosa missão que Mikhail Gorbatchev chegou ao cargo de secretário-geral do PCUS, posição mais alta da estrutura de poder da extinta União Soviética. Cabia a ele recolocar o país no mesmo patamar tecnológico do mundo ocidental, aumentando os níveis de produtividade econômica. Cabia a ele também aumentar a oferta e a qualidade de bens de consumo de alimentos para a população.
Para isso, era importante atrair investimentos estrangeiros, garantindo acesso a novas tecnologias. Com esse objetivo, foram firmadas muitas associações (ioint ventures) com empresas ocidentais. Era fundamental, para tanto, introduzir entre os administradores e trabalhadores o conceito de lucro, de produtividade, de controle de qualidade, etc, afim de modernizar empresas industriais e agrícolas.
O próprio Gorbatchev fez uma análise bastante realista da situação do país e propôs reformas nos planos político e econômico. Essas propostas aparecem de forma cristalina no livro Perestroika — novas idéias para o meu país e mundo, um best-seller mundial:
O sucateamento das indústrias, na extinta União Soviética, era cada vez mais acentuado, aumentando uma defasagem em tecnologia de produtos em relação às potências capitalistas. Seus produtos eram piores, uma produtividade, menor.

Estava-se desenvolvendo uma situação absurda: a URSS, o maior produtor mundial de aço, matérias-primas, combustiveis e energia, apresentava escassez de tais recursos devido ao uso ineficiente ou ao desperdício. Apesar de ser um dos maiores produtores de grãos para alimentação, tinha de comprar milhões de toneladas por ano para fornagem. Possuímos o maior número de médicos e leitos hospitalares para cada 1000 habitantes, e, ao mesmo tempo, existem claras deficiências em nossos serviços de saúde. Nossos foguetes conseguem encontrar o cometa de Halley e atingir Vênus com uma precisão surpreendente, mas ao lado desses triunfos científicos às necessidades econômicas, e muitos dos eletrodomésticos na URSS apresentam uma qualidade sofrível.
Infelizmente, isso não é tudo iniciou-se uma gradual erosão de valores ideológicos e morais de nosso povo.
Ficou claro que a taxa de crescimento caía rapidamente e que todo o mecanismo de controle de qualidade não estava funcionando de forma adequada. Havia falta de receptividade com relação aos avanços científicos e tecnológicos, a melhoria do padrão de vida estava diminuindo e havia dificuldade no fornecimento de alimentos, bens de consumo e serviços.
(GORBACHEV, Mikhall, Perestroika - novas idéias para o meu país e o mundo. P 20)

Nesse livro, Gorbatchev, rompendo com o imobilismo da era Brejnev, propôs uma reestruturação (Perestroika, em russo) da economia soviética visando à superação de suas profundas contradições. Mas, para a implantação da Perestroika, para o seu sucesso, respondendo a pressões internas e externas, seriam necessárias reformas também no sistema político-administrativo.
Era preciso pôr fim à ditadura, desmontando o aparelho repressor erigido na era Stálin. Outra necessidade era frear a corrida armamentista. Gorbatchev sempre tomou a iniciativa para a assinatura de acordos de paz com os Estados Unidos, o que acabou lhe garantindo o Prêmio Nobel da Paz, em 1990. Independentemente de seus princípios éticos, ele necessita urgentemente desses acordos para ter as condições econômicas e políticas que sustentariam a implantação de suas reformas.
O primeiro passo foi a glasnost, que pode ser traduzida como uma nova fase de transparência política. Teve inicio, assim, uma abertura política na extinta União Soviética. Entretanto, a desmontagem do aparelho repressor foi como se um poderoso vulcão, há muito adormecido, entrasse em atividade. Forças nacionalistas imediatamente começaram a reivindicar autonomia em relação a Moscou. Durante toda a existência da União Soviética, as minorias oprimidas pelos russos, que eram de fato os senhores do país, foram controladas pelo uso da força bruta — repressão, tortura, assassinatos, etc, - e pelo controle ideológico — o partido único como encarnação da revolução socialista e do proletariado no poder. Assim, com o primeiro relaxamento nessa estrutura de dominação, brotaram vários movimentos separatistas. As repúblicas bálicas foram pioneiras, declarando unilateralmente sua independência. Em seguida, os ideais de liberdade espalharam-se pelo Cáucaso, Ásia Central e outras regiões do país, levando à completa fragmentação política da antiga superpotência.

O FIM DA SUPERPOTÉNCIA

Mikhail Gorbatchev, que já estava sendo fortemente pressionado pela crise econômica e pelos insucessos da Perestroika, teve de contemporizar as pressões dos separatistas. Tentando manter a coesão territorial do país, fez um acordo com as repúblicas, concedendo-lhes maior autonomia no âmbito de uma federação renovada. A idéia de Gorbatchev era de que a União Soviética caminhasse gradativamente para uma espécie de confederação. Porém, isso era inadmissível para os comunistas conservadores. Um dia antes da entrada em vigor do acordo firmado entre Gorbatchev e representantes das repúblicas, os comunistas ortodoxos, sob a liderança de Guenedi lanaev, deram um golpe de Estado. A tentativa golpista, que durou de 18 a 20 de agosto de 1991, fracassou por falta de apoio popular por divisões no PCUS e nas forças armadas pela resistência liderada por Bons Yeltsin, presidente da Rússia. Mas, aproveitando-se da crise política que acabou o país, do vazio de poder que se instaurou, os países bálticos proclamaram sua independência política. Era o início do desmembramento do país.
Após a fracassada tentativa de golpe, Míkhail Gorbatchev foi reconduzido ao poder com apoio de Bóris Yeltsin. No entanto, o poder central esvaziara-se. Uma a uma, as repúblicas proclamaram a sua independência política, enfraquecendo o poder central. Gorbatchev era então presidente de um aglomeramento de países, de uma ficção geopolítica, não mais que um Estado unificado e centralizado. Mas o golpe fatal veio em dezembro de 1991, quando a própria Rússia, sustentáculo da União Soviética, proclamou também a sua independência, sepultando de vez a outrora superpotência. Um encontro dos presidentes da Rússia, da Ucrânia, e de Belarus, em 9 de dezembro de 1991, em MinsK (Belarus), selou o fim da União Soviética. Como resultado do Acordo de Minsk, surgiu a Comunidade de Estados Independentes (CEI). Em 21 de dezembro de 1991, essa entidade foi instituída pelo Tratado de Alma-Ata (Casaquistão). Onze das antigas repúblicas soviéticas aderiram á CEI, em Alama-Ata. Em 1993, Geórgia também ingressou na CEI. Das antigas repúblicas soviéticas, apenas a Lituânia, a Letônia e a Estônia não entraram para essa entidade. Veja o mapa e compare-o com o da extinta União Soviética.

De União Soviética à Rússia: Ascensão e decadência da superpotência


O mundo atual é marcado por duas tendências simultâneas e antagônicas: globalização versus fragmentação, tendências centrípeta e centrífuga, respectivamente. Foi esta ultima que imperou na União Soviética, que já não existe mais desde o final de 1991. enquanto a maioria dos paises se globalizava, ou se esforçava para isso, a antiga super-potência se fragmentava territorial, política e economicamente, sucumbindo à crise e ao nacionalismo. Em dezembro de 1991, foi criada a Comunidade de Estados Independentes (CEI), composta pela maioria das ex-repúblicas soviéticas. Trata-se de um aglomerado de países que mantém laços econômicos, políticos e militares. É uma tentativa incipiente de acomodar os novos países independentes, mantendo relações de cooperação, embora sob a hegemonia da Rússia, que, na prática, substituiu a União Soviética no cenário internacional.
Para entender esse turbilhão de mudanças, é inevitável uma retrospectiva da história da antiga superpotência.

FORMAÇÃO TERRITORIAL

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou simplesmente União Soviética, em sua expansão territorial, no pós-guerra, quando anexou os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia) e passou a ser composta por 15 repúblicas, chegou a ocupar o território de 22,4 milhões de quilômetros quadrados (um sexto das terras emersas do planeta), englobando mais de uma centena de povos, que somavam aproximadamente 290 milhões de habitantes. Veja no mapa.


Esse enorme país foi, na verdade, o ultimo grande Império multinacional forjado por uma potencia européia. As origens mais remotas da União Soviética remontam ao século XV, quando o czar Ivan III expulsou os mongóis e unificou o país em torno da capital, Moscou. Surgiu então o Império Russo. No século XVI, o czar Ivan IV, o Terrível, conquistou uma parte da Sibéria, dando inicio ao grande processo expansionista russo.
Várias culturas diferentes e vários povos não-russos foram incorporados pelo expansionismo czarista na Europa Central, no Cáucaso, ma Ásia Central e na Sibéria. Mas a União Soviética estruturou-se meso a partir de 1922, como resultado da vitória dos bolcheviques na famosa Revolução de Outubro de 1917. sob a liderança de Vladimir Lênin, o ultimo dos czares, Nicolau II, foi deposto e iniciou-se um período de enormes transformações políticas, econômicas e culturais na velha Rússia.

TRANFORMAÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS

Politicamente, consolidou-se sob o governo de Josef Stalin (1924 – 1953) um regime de partido único extremamente centralizado e autoritário. A fortaleza de poder desse imenso país localizava-se no Kremlin, em Moscou. A ditadura czarista foi substituída não pela ditadura do proletariado, como pregava a utopia marxista-leninista, mas pela ditadura da burocracia do PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Os burocratas predominantemente russos eram, os políticos que realmente controlavam o destino do país, particularmente os membros do politburo, de onde saía o dirigente máxima da União Soviética, o secretário-geral do PCUS.
A economia foi estatizada, ou seja, todos os meios de produção passaram a ser controlados pelo,Estado. Seu funcionamento era regido pelos planos qüinqüenais, elaborados pelo órgão de planejamento central, o Gosplan. Os planos definiam as principais metas as serem alcançadas pelos vários setores econômicos. Essas metas, no entanto, eram apenas quantitativas, ou seja, o conceito de produtividade da planificação soviética, não levava em conta a qualidade dos produtos, mas apenas sua quantidade.
Sob a economia estabilizada e planificada, a União Soviética foi alçada de uma posição secundária no cenário político e econômico do inicio deste século ao posto de segunda economia do planeta, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, posição  que ainda manteve durante longos anos. O país torno-se também uma superpotência nuclear e aeroespacial, rivalizado com os Estados Unidos durante o período da Guerra Fria. A verdade é que apesar dos gritos ideológicos contrários a essa evidência, a União Soviética cresceu aceleradamente, avançou de maneira significativa em termos tecnológicos e fortaleceu-se bastante econômica e militarmente, sob a economia estatizada e planificada. Então, durante muito tempo, esse tipo de sistema, do ponto de vista econômico, funcionou relativamente bem, conforme se pode constatar pelos dados a seguir.
Por que, então, a União Soviética enfrentou uma séria crise, que se agravou na década de 80 e acabou por levar Gorbatchev ao poder com um discurso e uma prática reformista?
A economia soviética funcionou relativamente bem no período em que o mudo ainda se guiava pelos padrões tecnológicos ditados pela Segunda Revolução Industrial. Enquanto a produção e, portanto, a tecnologia, os índices de produtividade e de competitividade tinham como referencial as indústrias nascidas ou aperfeiçoadas durante a Segunda Revolução Industrial, - industriais siderúrgicas, químicas, petrolífera, aeronáutica, naval, etc., - a União Soviética estava em pé de igualdade com os países capitalista desenvolvidos. Em alguns momentos, até esteve à frente, a exemplo de quando lançou, em 1957, o primeiro satélite artificial (Sputnik), ou quando colocou o primeiro cosmonauta em órbita da Terra (luri Gagarin), em 1961.
Até 1970, os planejamentos soviéticos priorizavam as indústrias de bens de produção, com o objetivo de propiciar autonomia ao país, além de investir na infra-estrutura necessária para sustentar o processo de industrialização. Indústrias como a siderúrgica, a petrolífera, a de máquinas e equipamentos tiveram um crescimento explosivo. Foram construídas barragens, ferrovias, redes de transmissão de energia, portos, aeroportos, etc. também a industria bélica foi priorizada, particularmente no terceiro plano qüinqüenal (1938 – 1944), quando o país entrou na guerra, estimulando, por razões, de segurança, o deslocamento industrial para o leste. Aproveitando-se assim, as reservas minerais e fósseis da Sibéria e da Ásia Central. Não podemos esquecer que, até a Segurança Guerra Mundial, a União Soviética era o único país socialista do mundo. O quarto plano qüinqüenal (1946 – 1950) foi direcionado para a recuperação da economia e para a reconstrução das fábricas e das obras de infra-estrutura destruídas pela guerra. Os planos seguintes continuaram enfatizando o setor industrial pesado e bélico, já no contexto da Guerra Fria. Tudo isso possibilitou um grande boom econômico.
O que mudou então, para explicar a crise que se abateu sobre o país já na década de 70, aprofundando-se de forma dramática na década de 80, período em que os países capitalistas desenvolvidos atingiram um novo patamar cientifico e tecnológico?

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


O SURGIMENTO DO CAPITALISMO E SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DAS REGIÕES DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

A Revolução Industrial modifica completamente a Geografia particularmente da Inglaterra , país que desencadeou todo esse processo. Pouco a pouco, a revolução Industrial ganha o continente europeu atingindo principalmente a França, a Holanda e a Bélgica.
Mas não é só a Geografia desses países que vai ser modificada. As repercussões da Revolução Industrial sobre os destinos dos diversos povos e regiões do mundo serão profundas.
Em primeiro lugar porque com o sistema fabril (a maquinofatura) aumenta enormemente a demanda de matérias-primas e estas vão ser buscadas nos mais diferentes recantos do mundo.

As repercussões da Revolução Industrial sobre os destinos dos diversos povos regiões do mundo serão profundas. O século XIX verá a Inglaterra tornar-se a “oficina do mundo” subordinado as diferentes regiões do mundo.

Em segundo lugar, porque com a expulsão dos trabalhadores do campo, e a ida deles às cidades, a agricultura dos paises que se industrializam começa a se dedicar, principalmente, ao cultivo de matérias-primas para as fábricas. Como os salários eram baixos e o nível de vida do proletário urbano era miserável, pouco empresários agrícolas se preocupavam em abastecer as cidades de alimentos.
Articulando com esses dois aspectos acima apontados, temos um terceiro que foi a aplicação da máquina a vapor, vão permitir interligar as diversas regiões no interior de cada país e integrar as mais longínquas regiões do mundo.
A América, principalmente colonizada por portugueses e espanhóis, viu o surgimento de uma série de países independentes.
A independência não foi acompanhada da abolição da escravatura, de uma reforma agrária, assim como não houve mudança nos objetivos da produção. Na verdade, esses paises se transformaram de colônias em semicolônias eu, como dizem os historiadores, tratá-se do neoliberalismo.

A Inglaterra estimulando o liberalismo, influenciou as lutas de libertação das colônias em relação às suas metrópoles. Porém estes novos países não levaram o processo de independência para o plano social e econômico.

A partir do século XIX, as regiões temperadas no Novo Mundo serão transformadas com a implantação da agricultura mercantil de exploração.

COLONIALISMO


A partir dos séculos XV e XVI as duas principais potências mercantis européias: Portugal e Espanha, iniciaram o processo de dominação de povos e regiões submetendo-se à condição de colônias. Por trás dessa iniciativa, estavam interesses da Burguesia Mercantil e da Aristocracia de obter artigos que pudessem ser comercializados na Europa, propiciando elevados lucros. Portanto, o colonialismo é filho do mercantilismo.

O colonialismo divide o mundo em metrópoles, de um lado e colônias de outro. É como se duas regiões diferentes começassem a se formar uma que manda, e outra que é submetida.

O objetivo dos comerciantes era obter produtos exóticos que os europeus não conseguiam produzir, como o ouro e a prata. É muito importante salientar o relativo desinteresse dos colonizadores europeus pelas regiões de clima temperado como o Canadá, o norte dos Estados Unidos, a Argentina, o Uruguai, o Chile, o Sul do Brasil, a Austrália e a Nova Zelândia.
Se estivessem bem atentos, veremos que o fato de não terem sido colonizadas com base na monocultura, latifúndio e escravidão, nos séculos XVI e XVII, marcou a vida desses povos diferenciando-os daqueles que sofrem colonização da exploração.

Formação das Regiões do Mundo Contemporâneo

Não se podem compreender as diversas regiões do mundo contemporâneo sem levar em consideração a Expansão Mercantil Européia a partir dos séculos XV e XVI e o colonialismo.

A expansão mercantil européia impôs as diversas regiões do mundo, um violento processo de transformação.

Até essa época, as diversas regiões do mundo mantinham uma relativa autonomia. Os traços culturais de cada região eram muito próprios, o que implicava diversas formas de encarar o mundo, e de os homens e mulheres se relacionarem entre si e com a natureza. Claro que havia troca de influencias culturais, entre os povos. No entanto, as características de cada região, de cada povo, eram muito próprias. Isso não só entre os continentes, mas também no interior deles as diferenças regionais eram muito acentuadas.

OS PRECONCEITOS

Não devemos esquecer que esse processo de expansão desses povos se deu também através da dominação cultural. Os europeus desenvolveram uma serie de preconceitos a respeito dos povos nativos da América, Ásia e África. Para os europeus colonizadores, os nativos eram “indolentes e preguiçosos”, não gostando de trabalhar. Não levavam em consideração que cada povo cria seus próprios valores culturais e é deles que vive e trabalha.
A colonização de diversos povos e regiões do mundo, foi da burguesia mercantil aliada à aristocracia, com o objetivo de obter riquezas que pudessem ser comercializadas.

Aliás, esse termo – primitivo – sugere que esses povos se encontravam num estágio primeiro, de uma escala gradual de desenvolvimento. Assim, os povos nativos eram vistos sendo um estágio inferior do desenvolvimento, na qual os europeus se encontravam no estágio mais avançado. Esse tipo de pensamento sugere que todos os povos passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento. Assim, os povos nativos sendo um estágio inferior de desenvolvimento. Com esse tipo de raciocínio, os europeus se davam o direito de colonizar os povos que consideram primitivos.

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